Parlamento Europeu barra entrada de Puigdemont e Comín, euro-deputados catalães eleitos com mais de um milhão de votos

Decisão da presidência da casa foi justificada com argumento sem sustentação, já que credenciais foram cedidas a demais deputados espanhóis

A repressão contra os políticos que impulsionaram o processo independentista da Catalunha se fez presente nesta quarta-feira (30) no Parlamento Europeu, em Bruxelas. O ex-presidente Carles Puigdemont e seu ex-secretário Toni Comín, eleitos euro-deputados pela Espanha no último dia 26 de maio com mais de um milhão de votos foram barrados na entrada do edifício. A notícia foi dada à tarde em primeira mão pelo jornalista Jean Quatremer, correspondente jornal francês Liberatión.


No tuite publicado às 13h06 (horário local), o correspondente diz: “Urgente: o Parlamento Europeu acaba de recusar o acesso aos independentistas catalães Carles Puigdemont e Toni Comín, eleitos nas europeias. Argumento: eles não juraram a Constituição espanhola. Mas nenhum dos eleitos espanhóis jurou! O PPE em ação!”.

Com a publicação, o jornalista que em seguida fez uma série de outras postagens explicando o ocorrido, revelou que a operação teve as digitais do presidente do Parlamento Europeu em final de mandato, o italiano Antonio Tajani, e seu secretário-geral, o alemão Klaus Welle, ambos membros do EPP (conservadores).

O mais curioso é que o argumento utilizado para impedir a entrada de Puigdemont e Comín não foi aplicada para outros espanhóis eleitos euro-deputados que entraram no local antes deles. Nenhum dos que acessaram o parlamento hoje já havia jurado a Constituição espanhola, tampouco recolhido a ata que indica a condição de eleito na Espanha.

“Quando chegamos com outros deputados espanhóis eleitos, os recepcionistas recusaram nossas identificações. Descobrimos então que nossos nomes estavam marcados em cinza na lista na entrada do prédio. Eles deram um telefonema e nos disseram que haviam sido instruídos a recusar a entrada de catalães eleitos”, relatou Puigdemont, que está exilado na Bélgica.

“Dois oficiais de segurança vieram explicar que a Espanha não havia comunicado a lista final de deputados eleitos e que Klaus Welle havia instruído a não nos deixar entrar. No entanto, todos os outros deputados eleitos foram credenciados sem problemas”, explicou Puigdemont, ao relatar que os portadores da notícia se recusaram fazer tal notificação por escrito.

Na matéria que escreveu para o Liberatión, Quatremer explica que na Espanha, um político se torna definitivamente deputado (regional, federal ou europeu) somente depois de ter jurado lealdade à Constituição perante a Comissão Eleitoral Central. Mas, que por enquanto, nenhum euro-deputado espanhol cumpriu esta formalidade. “Claramente, os 54 deputados espanhóis podem obter o seu credenciamento, ou nenhum. Discriminar apenas os separatistas catalães parece ser uma decisão política”, escreveu.

Foto do credenciamento do euro-deputado Jose Ramno Bauza, que contradiz argumento do Parlamento Europeu para barrar Puigdemont e Comín

O jornalista lembrou ainda que as autoridades do Parlamento Europeu sabem que se Puigdemont e Comín forem a Madrid para prestar juramento, terão poucas hipóteses de sair, uma vez que são alvo de um mandado de detenção, sob a acusação de “rebelião e sedição”.

A notícia se espalhou como pólvora nas redes sociais e foi destaque em diversos jornais europeus, evidenciando a diferença de trato com Puigdemont e Comín e os demais deputados espanhóis eleitos para o parlamento. Não é a primeira vez que Tajani se comporta como fiel aliado do Estado espanhol. Em março, ele se recusou a ceder um espaço para um evento organizado pelos deputados, porque Puigdemont iria falar. Razão invocada: potenciais problemas de segurança.


Em relação ao episódio de hoje, que os advogados de Puigdemont consideram violação dos direitos, o ex-presidente comentou à noite no Twitter: “Mensagem aos 1.025.411 dos cidadãos europeus que votaram Juntos por Catalunha (JxCAT): os seus votos não custam menos do que aqueles que VOTARAM PP, Cidadãos ou PSOE. Se assim for, a democracia na Europa teria terminado. Não permitimos. Lutaremos até o fim, e nós venceremos. Não nos rendemos!”

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