Catalunha para em repúdio à repressão policial

Catalães paralizam território em greve geral convocada para denunciar violação de direitos por parte do governo espanhol.  À noite, rei Felipe VI fez discurso na TV, mas não se solidarizou com as vítimas, aumentando o fosso entre Espanha e Catalunha

Em frente à Escola Ramon Lull, alunos deixaram suas mãos pintadas no asfalto e escreveram: “Somos um povo digno”

O brutal ataque perpetrado pela polícia espanhola contra os eleitores durante o referendo no último domingo foi repudiado em protestos que se multiplicaram durante todo o dia em várias cidades da Catalunha. Comércio, administração pública, escolas, unidades de saúde, transporte público, entre outros setores, paralizaram as atividades atendendo à greve geral convocada pelo movimento Mesa pela democracia.
Os manifestantes criticaram a postura do governo da Espanha, que até agora não se solidarizou com as quase 900 pessoas feridas pela polícia, cuja ação foi considerada “proporcional”. Os ataques aos eleitores, registrados em vídeos e fotos, deram volta ao mundo, suscitando indignação.

Manifestantes mandaram recado para União Europeia, cujo silèncio sobre a Catalunha levanta duras críticas

Muitas das vítimas, algumas ainda hospitalizadas, eram idosas, mulheres e jovens, que foram surradas com cacetetes, pisoteadas, arrastadas pelos cabelos e jogadas por escadas abaixo.
Em Barcelona, houve atos em vários pontos da cidade. Uma das maiores concentrações aconteceu na Plaça Universitat, onde foi lido um manifesto para denunciar a vulneração dos direitos fundamentais. Durante a manhã, muita gente voltou às escolas atacadas durante o referendo para levar flores. A maioria teve mobiliário destruído e material escolar confiscado.

Vista aérea da manifestação em Girona, onde mora presidente Puigdemont. Cidade foi uma das que sofreu maior repressão policial durante o referendo

Na Via Laetana, em frente à sede da Polícia Nacional, manifestantes exigiram que “as forças de ocupação” fossem embora da Catalunha, numa referencia também aos integrantes da Guarda Civil. Mais de 10 mil homens das duas corporações estão na região a mando do governo espanhol, que era contra o referendo e tentava impedi-lo. O efetivo está hospedado em navios nos portos de Barcelona e Tarragona e também em hotéis de cidades das quatro províncias catalãs.
Apesar de toda violência empregada no domingo, o estado espanhol não conseguiu impedir o referendo. Tampouco a vitória do sim, cujos votos alcançaram 90%. O resultado oficial da consulta deve ser oficializado esta semana e levado pelo presidente Carles Puigdemont à apreciação do Parlamento, a quem cabe a decisão de declarar a independência. Em entrevista à BBC, Puigdemont declarou que a proclamação da república deve acontecer entre esta e a próxima semana.

Felipe VI condenou governo catalão em discurso oficial em rede de TV. Esqueceu de se solidarizar com os quase 900 feridos no ataque policial do domingo

Na noite de ontem, em discurso oficial na TV, o rei Felipe VI se pronunciou pela primeira vez após o sangrento episódio de domingo. Suas palavras, condenando o governo catalão, a quem qualificou como “à margem do direito e da democracia” foram duramente criticadas pelas redes sociais.
Houve quem viu no discurso a abertura do caminho para o governo espanhol por em marcha a aplicação do artigo 155 da constituição espanhola. Isso permitiria a intervenção no governo catalão e a suspensão da autonomía da Catalunha. Além disso, o monarca não fez nenhuma menção de solidariedade às vítimas.
O caso catalão vai ser tema de debate nesta quarta-feira em Bruxelas. Até agora as manifestações da União Europeia têm sido apenas no sentido de dizer que a questão é de caráter interno da Espanha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.