Puigdemont: “Não vamos presentear Espanha com um governo de joelhos “

Na primeira entrevista exclusiva após sair da prisão na Alemanha, ex-presidente da Catalunha reclama o direito da maioria independentista no Parlamento de escolher o novo dirigente da Generalitat 

Puigdemont concedeu entrevista em Berlim onde aguarda decisão da justiça sob ordem de prisão emitida pela Espanha

O presidente cessado Carles Puigdemont reclamou da interferência da justiça espanhola no Parlamento da Catalunha, bloqueando a investidura de um novo governante. “Nós ganhamos o direito de ser escutados (numa referência aos 2,1 milhões de eleitores que deram maioria aos deputados independentistas) e não de sermos tratados como defensores de uma ideia criminal”, destacou em entrevista ao canal TV3, a primeira exclusiva após ter saído da prisão, concedida em Berlim.

Segundo Puigdemont, é grave que os candidatos estejam sendo impedidos de se submeterem à investidura quando estão com seus direitos políticos intactos. “Existem deputados de primeira e de segunda?”, questionou. Ele remarcou que está impedido de ser votado, mesmo sendo deputado eleito, assim como também os parlamentares Jordi Sànchez e Jordi Turull, que estão em prisão provisória em Madri, mas sem condenação.

Consciente do cenário complexo, com ex-auxiliares presos e no exílio, Puigdemont disse que é necessário buscar soluções para que não hajam novas eleições. “Novas eleições é o que o governo espanhol quer, mas ainda temos tempo até 22 de maio (quando acaba o prazo para a investidura) para emplacar um candidato”, garantiu.

Para Puigdemont, o que não se pode é dar-lhes (ao estado espanhol) um “governo catalão de joelhos”. Nem tampouco decepcionar a cidadania catalã que já deu mostras suficientes do que deseja para o futuro. Por isso pediu paciência e tempo para negociar com as demais forças independentistas no Parlamento.

O líder catalão disse também que enquanto houver presos políticos não pode haver normalidade na Catalunha. Por isso, instou mais uma vez o estado espanhol a ouvir o clamor dos eleitores que se manifestaram claramente nas urnas e a comunidade europeia a intermediar uma saída dialogada para o conflito.

Puigdemont fez algumas revelações na entrevista sobre fatos anteriores à frustrada proclamação da república de 27 de outubro e de episódios recentes. Disse que esteve todo o tempo aberto ao diálogo com o primeiro-ministro Mariano Rajoy, que se negou a conversar com ele, mesmo com a intermediação de um dos seus ministros.

Falou também que antes de ser cessado teve a oportunidade de convocar eleições, mas que sem garantias de que a medida impediria a intervenção espanhola, preferiu não dar este passo.

Com relação à sua prisão na Alemanha, ele explicou que estava voltando à Bélgica para se colocar à disposição da justiça daquele país, onde estava exilado, após a reativação da euroordem pela justiça espanhola. Contudo, foi interceptado no caminho e agora aguarda a decisão da corte alemã à ordem de extradição.

Puigdemont falou dos dias na prisão de Neumünster e que tudo o que passou o deixou mais resiliente e seguro de suas convicções. Ele agradeceu as cartas que recebeu enquanto esteve detido e o carinho que vem recebendo do povo alemão.

O líder catalão, que teve retirado o direito à escolta que é concedido a todos ex-presidentes, fez um agradecimento especial aos policiais que estiveram ao seu lado voluntariamente desde que decidiu exilar-se. “Eu devo minha vida a esta gente, que trabalhou em condições muito difíceis”, reconheceu. Os voluntários a que se refere são pertencentes ao corpo dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, e utilizaram períodos de folgas e de férias para proteger o ex-presidente.

 

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