Líderes catalães rebatem versão de rebelião após silêncio imposto na prisão

Ex-vice-presidente Oriol Junqueras e ex-secretário Joaquim Forn abrem rodada de depoimentos de líderes catalães presos sob acusação de se alçar violentamente contra a Espanha em outubro de 2017

Junqueras (em pé) foi o primeiro a depor na sessão. Julgamento começou no dia 12 de fevereiro

O silêncio a que foi imposto aos líderes independentistas presos há mais de uma ano e meio foi quebrado nesta quinta-feira (14) no Tribunal Supremo, em Madri, onde estão sendo julgados pela realização do referendo de autodeterminação e proclamação da república da Catalunha em outubro de 2017. Três dias após o início do procedimento, foi concedida a palavra ao ex-vice-presidente Oriol Junqueras e ao ex-secretário de Interior, Joaquim Forn.

Os depoimentos chamaram atenção pela contundência e firmeza das declarações dos políticos presos desde 2 de novembro de 2017, que contestaram a versão de rebelião da acusação. Junqueras se apresentou como “preso político” porque se encontra “indefeso ao ser julgado pelas suas ideias e não pelos fatos”. E acrescentou que não cometeu nenhum delito, ressaltando que a violência que houve durante o referendo de 2017 partiu dos corpos policiais espanhóis contra eleitores pacíficos.Junqueras traçou uma linha do tempo dos acontecimentos dos últimos nove anos, explicando como se chegou ao referendo de autodeterminação, destacando o desdém do governo espanhol em dialogar. “A falta de vontade de dialogar dos sucessivos governos espanhóis impediu uma solução política para o conflito”, remarcou.

O ex-vice-presidente se negou a responder as perguntas da acusação e do partido de ultradireita Vox, que atua no julgamento como acusação popular. Assim, respondeu somente às perguntas de seu advogado, numa exposição de duas horas e meia, na qual ressaltou que organizar um referendo não é delito. “Defender pacificamente a independência também não é delito e é um convencimento que mantenho”, disse.

O presidente do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) frisou que jamais atuou de forma violenta ou planejado uma situação desta natureza. “Votar não é delito, repito, contudo impedir uma votação com a força, sim que é”, afirmou.

Joaquim Forn, por sua vez, aceitou responder os questionamentos da acusação, que tentava fazê-lo corroborar com a versão de que os políticos e ativistas catalães incitaram a população à rebelião em 2017. O ex-secretário comandava a pasta de Interior, ao qual estão subordinados os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, cuja atuação foi considerada em desacordo com a determinação de atuar para impedir o referendo considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional (TC).

Forn negou que em momento algum tenha dado ordens políticas ao corpo policial, que ao seu ver atuou para evitar incidentes e proteger a população. Também deixou claro que jamais qualquer integrante do então governo catalão recebeu informações ou imaginou que a Polícia Nacional e a Guarda Civil fosse agir com tamanha violência para impedir o referendo. O que foi testemunhado por todo o mundo.

O julgamento dos líderes catalães, iniciado na última terça-feira (12), está sendo considerado um dos mais importantes do século. Também desperta grande atenção midiática, especialmente de meios de comunicação europeus e norte-americanos. Muitos deles publicaram matérias nos últimos dias convergindo que no procedimento é a justiça espanhola que está no banco dos réus. Isso porque há o entendimento que os direitos dos políticos catalães vem sendo vulnerado no processo e que o caso poderia haver tido uma saída política.

As sessões serão retomadas na próxima terça-feira (19), quando continua a rodada de depoimentos dos acusados.

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