Morte do leão Cecil abre olhos do mundo para caça a espécies ameaçadas

Cecil Nova Iorque homenagem
Imagem de Cecil e de 160 animais ameaçados de extinção foram exibidas em prédio de Nova Iorque

A morte de Cecil, o leão mais famoso do Zimbabue, caçado pelo dentista norte-americano Walter James Palmer, que pagou 50 mil euros pelo “troféu”, levantou um debate mundial sobre a caça de espécies ameaçadas. Uma prática comum em países da África, justificada pela autoridades do continente como forma de arrecadar recursos para preservação dos parques naturais.
O argumento já era questionado por ambientalistas e agora é objeto de debate por gente de todo planeta, incluindo artistas famosos, como Arnold Schwarzenegger, Mia Farrow e a modelo Olivia Wilde, que se manifestaram pelas redes sociais.
Também esta gerando protestos diversos. Um deles aconteceu no último sábado, 1º de agosto, no emblemático Empire State Building, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Muita gente parou para ver as imagens de animais em perigo de extinção exibidas na fachada do edifício. Foram projetadas fotos de 160 deles, entre ursos, aves, macacos, tigres, lobos, e do leão Cecil.
A exposição virtual foi organizada pelo produtor Fisher Stevens e por Louie Psihoyos, fundador do The Oceanic Preservation Society e ganhador de um Oscar pelo documentário “The Cove”. Com o propósito de alimentar o debate sobre a extinção massiva de animais e para promover o documentário “Racing Extinction”, que estreará no Canal Discovery em dezembro.
O pedido de desculpas de Palmer, que diz ter atuado de forma legal, só fez a onda de protestos crescer. Uma vez que foram se multiplicando informações sobre os efeitos deste tipo de caça. Os leões, por exemplo, teve a população reduzida de 200 mil indivíduos há um século para aproximadamente 20 mil na atualidade.

Cecil consultorio protestos
Protestos na frente do consultório de Palmer, nos EUA, responsável pela morte do leão mais famoso do Zimbabue

Walter Palmer está no olho do furacão – teve que fechar seu consultório e apagar suas páginas profissionais na internet – mas a prática do caçador aficionado é arraigada na África. Onde se pode caçar não apenas leões, mas muitas outras espécies protegidas de forma legal, mediante o pagamento de grandes importes de dinheiro. Que seria destinado à conservação dos mesmos animais.
“Ainda que pareça estranho, os caçadores de troféu norte-americanos fazem parte de um rol muito importante para a proteção da vida selvagem na Tanzania”, escreveu o diretor do Ministério de Recursos Naturais e Turismo do país, na edição do The New York Times de 18 março de 2013.
“Os milhões de dólares que estes caçadores gastam para ir todos os anos a safáris ajudam a financiar as reservas de vida silvestre, o manejo de áreas naturais e os esforços de conservação de nosso país”, explicou Alexander N. Songorwa, em um apelo público para que as autoridades norte-americanas não incluam aos leões africanos em sua lista de animais protegidos.
Outras pedidos similares foram registrados semana passada ressaltando que não se pode confundir um ato ilegal com a “caça responsável”. Como a feita por um caçador que pagou 350 mil dólares pelo direito a matar um rinoceronte negro na Namíbia, em 2004. No país é permitida a caça de cinco rinocerontes negros a cada ano sob a justificativa de que o dinheiro pago é revertido para preservar o habitat do animal.
Estima-se que a atividade gera uma receita de 25 milhões de dólares por ano na Namíbia e 130 milhões de dólares, no mesmo período, em toda a África para atividades de conservação.
“É certo que as licenças para caça geram milhões de dólares para África, mas a observação da natureza e os safáris fotográficos geram outros milhões”, contra-argumenta Jeffery Flocken, do Fundo Internacional para o Bem-estar Animal (IFAW).
“Entre uma caça que mata o animal e permite levar seu corpo para fora da África, como a de um formoso animal, a exemplo de Cecil, pelo qual milhares de pessoas estão dispostas a viajar para vê-lo outra vez, o argumento econômico está claramente em favor da estrategia que é sustentável a largo prazo”, declarou em entrevista à BBC Mundo.
Flocken destacou também que leões, rinocerontes e elefantes estão em perigo de extinção porque são valiosos. E se é estipulado um valor econômico a suas cabeças montadas como troféus soma-se um novo perigo, porque se diz claramente que são mais valiosos mortos do que vivois”, adverte.
Dinâmica perversa
Desta foram, se gera dinâmicas perversas como aconteceu no caso da caçada a Cecil. “A razão para atraí-lo para fora da reserva a uma área de caça é que não haviam mais leões fora. E os parques naturais são os únicos lugares onde há garantia de encontrar leões atualmente”, declarou Pieter Katz, da ONG Lion Aid, à BBC Mundo.
Para Kat, a ideia de que a caça pode ser uma influência positiva desde o ponto de vista ambiental somente quando a população de animais de uma determinada espécie está crescendo além da capacidade natural do entorno para sustentá- lo, o que não é o caso da África.
“Propagam que a caça controlada gera recursos para conservar os animais. Mas isso não é certo, pois a maioria dos recursos ficam com os operadores de caça. Beneficiam um pouco aos governos e nada a gente que convive com os leões”, afirmou. Segundo Lion Aid, apenas 2% dos montante arrecadado com as caçadas de troféus fica nas comunidades.

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