Sánchez não logra investidura e vai à segunda votação com margem apertada de votos na Espanha

Primeiro-ministro em funções obteve 166 votos na primeira votação no Congresso de Deputados, dez a menos que necesitava para garantir comando do governo espanhol

Sessão de primeira votação foi tensa no Congresso espanyol, com gritos de opositores de Pedro Sánchez contra partidos de esquerda

O candidato a primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez (PSOE), não logrou a maioria absoluta para ser investido no comando do governo na primeira rodada de votação do Congresso de Deputados, em Madri, neste domingo (05). O socialista obteve 166 votos a favor, dez a menos que os 176 exidos em maioria absluta, tendo 65 contra e 18 abstenções. A expectativa, ajustadíssima, é que Sánchez consiga êxito na segunda rodada, na próxima terça-feira (07), quando necessitará de maioria simples, ou seja, 50% mais um dos votos.

Para a próxima sessão, Sánchez tem assegurado 167 votos, já que hoje não contou com a participação da deputada Aina Vida, de Em Comum Podemos, de Barcelona, que estava doente, e não conseguiu se inscrever a tempo para emitir o sufrágio pelo sistema eletrônico.

Além do PSOE, deram sim ao candidato as seguintes siglas: Unidas Podemos, PNB, Mais País, Compromisso, Terol Existe, BNG e Nova Canária. As abstenções vieram de Esquerda Republicana de Catalunha e EH Bildu, do País Vasco. Os independentistas catalães de JxCat e CUP votaram não, da mesma maneira que PP, Vox, Cidadãos, Fórum Astúrias, Navarra Soma, Partido Regionalista de Cantábria e Coalizão Canária.

Apesar de ter assegurado a maioria simples, há muita tensão porque se um voto do sim passa ao não ou dois deputados a favor do sim não podem votar, isso faria perigar a investidura. Diante de riscos desta natureza, o PSOE organizou um operativo para assegurar que ninguém votará de maneira imprevista  e pediu aos seus deputados que estejam em Madri na noite prévia à segunda votação para evitar abstenções durante o pleno.

A sessão deste domingo foi muito tensa (acesse o vídeo acima), marcada pelos gritos dos deputados de direita e extrema direita contra a deputada Mertxe Aizpurua, porta-voz do partido basco EH Bildu. A parlamentar criticou em seu discurso o rei Felipe VI e remarcou que o seu discurso contra Catalunha, em 3 de outubro de 2017, pós-referendo de autodeterminação na região foi duro e fora do que se espera de um chefe de estado que tem a missão de mediar e não de incentivar conflitos.

Os gritos continuaram contra a porta-voz da CUP, Mireia Vehí, e contra a porta-voz do PSOE, Adriana Lastra. A presidenta do Congrés, Meritxell Batet, teve que intervir chamando a ordem em diversas ocasiões e defendendo a liberdade de expressão na câmara.

A sessão deste domingo foi uma continuação da iniciada ontem, quando houve a apresentação da candidatura de Sánchez e o debate parlamentar com os porta-vozes dos partidos que compõe a câmara expondo seus posicionamentos. Sánchez atraiu a ira das siglas de direita e de extrema direita ao pactar um acordo com Esquerda Republicana de Catalunha, na qual obteve a abstenção dos parlamentares do partido, em troca da abertura de uma mesa de diálogo em torno do conflito entre a comunidade autônoma e Espanha.

Desde 2017, o estado vem empreendendo uma onda repressiva contra líderes políticos, ativistas e entidades do movimento independentista catalão. Nove líderes foram condenados a penas que ultrapassam mais de cem anos, outros estão no exílio e quase 900 processos contra entidades e pessoas físicas correm em vários âmbitos da justiça. Além disso a gente dos Cômites de Defesa da República (CDR) ainda presas sob acausação de terrorismo – já admitido sem provas pela Audiência Nacional – e jovens que participaram dos protestos na Catalunha, no final de 2019, contra a sentença contra os presos políticos.

Os opositores também não perdoam Sánchez, que deu apoio à aplicação da intervenção na Catalunha em 2017, da sua aproximação com os bascos, que também defendem o diálogo ao invés da repressão no caso catalão. Além disso, criticam o pacto com Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, que ocupará ministérios e hoje é o partido ideologicamente mais próximos das reivindicações de esquerda no país.

A próxima terça-feira promete mais tensão no hemiciclo do Parlamento espanhol, onde os opositores já ameaçaram usar a justiça contra Sánchez caso dialogue com os independentistas catalães. A ver os próximos capítulos.

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