Coalizão de artistas internacionais ajuda a promover História Geral da África

 

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O músico congolês Ray lema é o porta-voz da coalizão dos artistas

Com informações da UNESCO

Na década de 1960, em um momento histórico no qual muitos estados africanos obtiveram sua independência, a UNESCO decidiu iniciar uma aventura sem precedentes e convidar historiadores africanos a escrever a história do seu continente, a qual, até então, era transmitida principalmente por meio da tradição oral. O material produzido foi lançado esta semana e formada a Coalizão Internacional de Artistas para apoiar a promoção do trabalho, desconhecido do público em geral: a História Geral da África.

Cerca de 350 especialistas esboçaram os oito volumes da História Geral da África, com um total de 10 mil páginas que abrangem o equivalente a mais de 3 milhões de ano de civilização. Considerando esses números, o projeto é inovador em vários aspectos.

A História Geral da África foi planejada por um comitê científico, com os africanos respondendo por dois terços de sua composição, incluindo J. F. Ade Ajayi (Nigéria), Amadou Hampaté Bâ (Mali), Cheikh Anta Diop (Senegal), Mohamed El Fasi (Marrocos), Josef Ki-Zerbo (Burkina Faso), Gamal Mokhtar (Egito), Djibril Tamsir Niane (Guiné), Théophile Obenga (República do Congo), Bethwell Allan Ogot (Quênia) e 30 outros especialistas da África, do Caribe, das Américas e da Europa.

Pela primeira vez, foi atribuída uma voz aos africanos, que compartilhavam uma visão continental da história. Como escreveu, na introdução ao primeiro volume, o historiador queniano e presidente do Comitê Científico, Bethwell Allan Ogot, esse trabalho representa, portanto, um elemento-chave no reconhecimento do patrimônio cultural africano e destaca os fatores que contribuem para a unidade do continente.

As tradições orais africanas finalmente se tornaram aceitas como uma fonte legítima da história, aos olhos da comunidade científica internacional. Os trabalhos dos pioneiros africanos foram produtivos. Por exemplo, as pesquisas de Djibril Tamsir Niane sobre o Mali medieval revelaram, já em 1958, que os griôs também desempenhavam o papel de arquivistas na África Ocidental.

Ainda assim, “para colocar as coisas em perspectiva, um historiador deve comparar suas fontes e referenciá-las de forma cruzada”, declarou o historiador guineano em uma entrevista concedida ao Correio da UNESCO em 2009.

Nesse mesmo ano, a UNESCO lançou a segunda fase do projeto, a saber, o uso pedagógico da História Geral da África.

O ensino da história da África – Embora os oito volumes tenham sido publicados totalmente em inglês, francês e árabe, e existam versões condensadas em dez línguas, incluindo três línguas africanas (suaíli, hauçá e fula), esse “monumento de aprendizagem em grande parte inacessível”, de acordo com d’Elikia M’Bokolo, ainda precisa avançar mais e ter destaque em livros didáticos, na África e em outros lugares. Foi por essa razão que o historiador congolês aceitou a presidência do Comitê Científico, com a tarefa de promover o uso pedagógico da obra.

Segundo o antropólogo djibutiense e coordenador do projeto na UNESCO, Ali Moussa Iye, existem três grandes desafios nesta segunda fase. Em primeiro lugar, há o desafio educacional de se tomar como base os oito volumes da História Geral da África para se identificar o conteúdo comum para todas as crianças africanas que estão na educação primária ou secundária. Existe ainda o desafio político de se integrar o conteúdo comum aos vários sistemas educacionais no continente e, finalmente, o desafio financeiro de se convencer os Estados-membros da União Africana a “abrirem a carteira”.

“Atualmente, a UNESCO está trabalhando no nono volume da História Geral da África”, acrescenta Ali Moussa, “com a intenção de atualizar o que já foi publicado e destacar os novos desafios e as diásporas da África”.

Tornar a história da África acessível para a juventude – Em paralelo ao trabalho que está sendo realizado pelos canais institucionais, atualmente, a UNESCO está desenvolvendo uma rede de artistas, da África e de outros lugares, para conscientizar os jovens sobre as mensagens contidas na História Geral da África. Com o seu compromisso como formadores de opinião e com o seu trabalho artístico, esses membros da nova Coalizão também irão se empenhar em convencer líderes políticos de que o ensino sobre o patrimônio compartilhado dos povos africanos é de grande interesse para todo o continente.

Já em 1979, o historiador burquinense Joseph Ki-Zerbo declarou no Correio da UNESCO que: “Todos os males que afligem a África atualmente, assim como todas as possibilidades para o futuro, são o resultado de inúmeras forças transmitidas ao longo da história”. O diretor do primeiro volume da História Geral da África, que foi publicado no ano seguinte, disse ainda que: “a menos que se escolha viver em um estado de inconsciência e alienação, não se pode viver sem memória, ou com uma memória que pertence a outra pessoa”.

Ray Lema, o músico congolês ouviu sua mensagem de forma alta e clara. “Os danos da história estão profundamente enraizados e enfraquecem a África”, declarou em uma entrevista dada à UNESCO no lançamento da Coalizão, da qual ele é o porta-voz. “Para nós africanos, é fundamental conhecer o nosso passado para curar as feridas que ele nos infligiu e para recuperar a fé em nós mesmos. É essencial superar o paradoxo do continente africano, que é tão pobre, mas também cheio de riquezas”.

Transmitindo para a juventude os valores expressos na História Geral da África – “Há um provérbio africano que diz: ‘se você não sabe de onde veio, você não pode saber para onde vai’. Bem, a História Geral da África explica de onde nós viemos!”, declarou Ray lema, que aplaude a iniciativa da UNESCO de lutar em todas as frentes para tornar o trabalho acessível a um grande público. O músico congolês é o porta-voz da Coalizão dos Artistas, encarregada de promover este trabalho.

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