Diada atípica na Catalunha marcada pela Covid-19 e divisão independentista

Atos realizados pelas entidades soberanista foram descentralizados. Nos discursos, críticas às brigas partitidistas que enfraquecem movimento independentista

Ato Diada 2020 em Barcelona
Em Barcelona, manifestação das entidades soberanistas ocorreu na Praça Letamendi

A Diada da Catalunha neste 11 de setembro foi sem as manifestações massivas que marcaram a data nos últimos anos. Por conta da Covid-19, os atos convocados pela Assembleia Nacional Catalã (ANC), Òmnium e Associação de Municípios pela Independência (AMI) tiveram número limitado de participantes. Nos discursos, fortes críticas aos líderes dos partidos independentistas que há tempos vêm travando disputas prejudiciais à unidade estratégica do movimento soberanista.

Já temos suficientes brigas e debates estéreis. A repressão do estado busca isso, a divisão e a desunião. O pior inimigo somos nós mesmos”, enfatizou o vice-presidente de Òmnium, Marcel Mauri. Ele pediu aos partidos que “não se deixem levar pelos interesses de partido” porque se não “a cidadania saberá se colocar à frente”.

Na mesma linha, a presidente da ANC, Elisenda Paluzie, disse que a etapa “sem rumo está durando muito” e instou o ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont (JxCat), e o ex-vice-presidente Oriol Junqueras (ERC) a tecerem uma estratégia conjunta.

Temos presidentes simbólicos, leis simbólicas, governos simbólicos. Não somos um país siimbólico, somos um país de verdade. Estamos fartos da divisão e da tática. E exigimos já uma estratègia. Vice-presidente legítimo Oriol Junqueras e presidente legítimo Carles Puigdemont, por favor, leiam cada um o livro do outro. O libro que queremos ler é o que tenha vossas duas assinaturas”, destacou.

Paluzie fazia referência à disputa travada entre Puigdemont, exilado na Bélgica, e Junqueras, preso e condenado pelo processo soberanista, que tem distanciado cada vez mais as duas principais siglas independentitas. Puigdemont é líder de Juntos por Catalunha, enquanto Junqueras comanda Esquerda Repúblicana da Catalunha (ERC).

Apesar de atuais sócios no governo e no parlamento catalão, desde a tentativa frustrada de independência, em 2017, quando também estavam juntos, se distanciaram e não param de se atacar mutuamente. Recentemente, ambos lançaram livros nos quais contam suas versões sobre o processo independentista e se acusam mutuamente. Essa luta partidária, somada à repressão espanhola ao movimento, tem gerado crítica entre os partidários da independência da Catalunha e dificultado a ação do movimento.

Diada 2020 Arco do triumfo, de Òmnim
Òmnium realizou ato em homenagem as 2850 pessoas represalidas por conta do processo soberanista de 2017

ATOS DESCENTRALIZADOS – Com as medidas de prevenção por conta da pandemia, os atos do 11 de setembro foram descentralizados em 131 pontos diferentes em 82 municípios catalães. A estimativa é de que mais de 60 mil pessoas tenham participado.

Em Barcelona, houve também manifestação organizada pelo Conselhos em Defesa da República (CDRs), que realizou passeata, queimou um boneco do Rei Felipe VI, e se dissipou na Praça Urquinaona, no centro da cidade.  Durante o dia, os partidos políticos também fizeram atos simbólicos em referência à data, que marca a tomada da Catalunha, em 1714, pelos Bourbons no final da Guerra de Sucessão.

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