Rapper Pablo Hasel é preso na Espanha por injúrias à Coroa após 24h de barricada em universidade

Cantor foi condenado pelos crimes de exaltação do terrorismo, insultos à Coroa e insultos e calúnias às Instituições do Estado por conta da letra de uma canção e postagens no Twitter. Protestos contra prisão estão marcados para hoje

O rapper Pablo Hasel foi preso hoje na Espanha após quase 24 horas trancado na reitoria da Universidade de Lleida, na Catalunha, onde resistiu à detenção atrás de barricadas acompanhado de mais de 50 ativistas. O cantor foi condenado pela Audiência Nacional pelos crimes de exaltação do terrorismo, insultos à Coroa e insultos e calúnias às Instituições do Estado por conta da letra de uma canção e, também, pelo conteúdo de postagens no Twitter. Antes de ser detido, o cantor gravou na rede social os tuítes pelos quais foi condenado.

Um forte esquema policial, com dezenas de agentes e carros da Brigada de Choque foi montado em torno do prédio da universidade às 6h30 da manhã. O prazo para Hasel se entregar voluntariamente terminou última sexta-feira. Às 8h25 foi realizada a detenção formal. Ao ser levado pelos agentes, o rapper gritava slogans como “anistia total”, “eles não vão nos dobrar”, “eles não vão nos parar apesar da repressão” ou “morte ao estado fascista”.

Hasel se trancou desde a manhã da segunda-feira no edifício da reitoria da Universidade de Lleida “para tornar visível o que considera um ataque muito sério contra as liberdades”. A polícia conseguiu atravessar com facilidade as barricadas colocadas pelos ativistas que o acompanhavam na vigília. Eles se refugiaram no terceiro andar do prédio enquanto jogavam alguns objetos nos policiais, embora tenham sido finalmente encurralados pela polícia, que passou a identificá-los. Dentro do prédio também estavam vários jornalistas e fotojornalistas que passaram a noite acompanhando Pablo Hasel. O momento da prisão foiamplamente divulgado no Twitter.

Na segunda-feira, a Audiência Nacional voltou a rejeitar a suspensão da execução da pena de nove meses de prisão para Hasel, lembrando que em 2017 foi condenado por crime de resistência ou desobediência à autoridade e em 2018 por invasão de domicílio. No início deste mês, a terceira seção da Câmara Criminal do Tribunal deu a Hasel dez dias para ir voluntariamente à prisão para cumprir sua segunda sentença.

“Com este registo criminal, seria absolutamente discriminatório em relação aos demais criminosos, e também grave exceção individual na aplicação da Lei, totalmente desprovida de justificação, a suspensão da execução da pena a este condenado”, afirma o tribunal. A justiça acrescenta que as “campanhas” a seu favor “que alguns orquestraram não podem determinar a não aplicação da lei em vigor, mas sim a sua eventual modificação pelo Parlamento”.

Após a prisão, organizações internacionais e líderes políticos denunciaram os “graves déficits democráticos” que ainda estão ocorrendo na Espanha. Existem muitas organizações internacionais que pedem uma reforma legal do governo para reduzir a gravidade dos crimes pelos quais o rapper foi condenado. Especialistas em direito penal argumentam que a lei espanhola é muito rígida e pode estar violando os direitos humanos, embora afirmem que não é incomum que um prisioneiro seja condenado a nove meses de prisão.

A Anistia Internacional se pronunciou sobre a condenação a prisão “injusta e desproporcional” e lançou campanha com o músico C. Tangana para exigir a reforma do Código Penal. Além disso, mais de 200 representantes do mundo da arte e cultura espanhola, liderados pelo cineasta Pedro Almodóvar, o cantor e compositor Joan Manuel Serrat e o ator Javier Bardem, mostraram seu apoio ao rapper.

Em função da prisão de Hasel, foram convocades manifestações para a noite de hoje em diverses cidades da Catalunha. Em Barcelona (Plaça de Lesseps, 19h00), Lleida (Plaça de la Catedral, 19h00), Girona (Plaça de l’1 d’Octubre, 19h00) e Sabadell (Plaça de Sant Roc, 19h00).

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