Massacre em Atlanta põe foco na xenofobia contra asiáticos-americanos

Ataques contra comunidade cresceram com a pandemia alimentada pelo discurso xenófobo de Donald Trump. Presidente Biden condenou crimes de ódio

O massacre ocorrido esta semana em três casas de massagem em Atlanta na Geórgia, Estados Unidos, no qual seis dos oito mortos eram mulheres asiáticas, colocou foco no racismo e na xenofobia contra os asiático-americanos. Essa crise vem sendo denunciada há muito tempo pela comunidade, mas  tem sido invisibilizada e silenciada no país.

O problema se agravou em 2020 após o início da pandemia por conta de atitudes xenófobas alimentadas em grande parte por Donald Trump e seus apoiadores gerando uma onda de violência e assédio que gerou temores. As autoridades ainda não classificaram o assassinato como um crime de ódio e um policial chegou a justificar que o assassino confesso – Robert Aaron Long, branco de 21 anos – sofria de “um problema de dependência sexual”.

Políticos, ativistas e membros da comunidade, entretanto, não têm dúvidas de que estão em jogo o racismo e a discriminação. A comunidade é vítima de estereótipos persistentes e perniciosos. A mulheres com raízes asiáticas são frequentemente vistas como objeto de hipersexualização e desumanizadas, além de vulneráveis ​​quando são da classe trabalhadora ou marginalizadas.

No ano passado, os crimes de ódio contra a comunidade dispararam 150% nas 16 maiores cidades dos EUA, de acordo com dados oficiais compilados pelo Centro para o Estudo do Ódio e Extremismo da Universidade da Califórnia. Além disso, desde março de 2020, quando Trump tuitou pela primeira vez “vírus chinês” e colocou gasolina no fogo que se espalhou a toda velocidade nas redes e na vida real, houve quase 3.800 incidentes de assédio verbal, violações dos direitos civis e agressão física, de acordo com Dados do Anti AAPI Hate.

Nos últimos meses, uma mobilização incomum foi observada, especialmente com vídeos virais como o ataque a um filipino no metrô de Nova Iorque, cujo agressor teve um corte no rosto com uma faca ou no mês passado em Oakland contra um tailandês octogenário que morreu no ataque. Em Nova Iorque e São Francisco, duas cidades onde patrulhas de cidadãos foram organizadas para proteger suas Chinatowns, a polícia montou unidades especiais no ano passado.

Os números são impressionantes, mas ainda não dimensionam a totalidade do problema. Um relatório federal de fevereiro descobriu que 40% dos crimes de ódio não são denunciados, um problema exacerbado em uma comunidade extremamente diversa onde alguns mantêm barreiras linguísticas e outros não confiam na aplicação da lei. Ainda mais se, como vítimas de Atlanta, trabalham em uma indústria que é ligada, justificadamente ou não, à exploração sexual. Embora uma lei federal de 1990 exija a manutenção de registros de crimes de ódio, ela é virtualmente ineficaz porque não exige participação e, em 2019, por exemplo, quase 90% das forças policiais não relataram nenhum.

Washington está começando a prestar atenção na questão após o ataque. Na quinta-feira, o Congresso realizou audiência, organizada já antes do massacre para tratar do tema. Por outro lado, o presidente Joe Biden e a vice Kamala Harris se reuniram na sexta-feira em Atlanta com líderes da comunidade para prestar solidariedade e repudiar a violência.

Na sua primeira semana na Casa Branca, Biden assinou um memorando condenando a “retórica incendiária e xenófoba” e instruindo o procurador-geral a “estender a coleta de dados e informações públicas”. Em seu primeiro discurso no país no horário nobre, o democrata condenou os “crimes de ódio cruéis contra os americanos asiáticos que foram atacados, perseguidos, culpados e transformados em bodes expiatórios”. No mesmo dia, o Congresso também pediu a aprovação da Lei de crimes de ódio.

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