Quem financia o terrorismo? (I e II)

Por Cesar Vanucci*

“A real e escabrosa história do ISIS ainda está por ser contada”. (Antônio Luiz da Costa)

Muita gente, carente de informações atualizadas sobre acontecimentos significativos da trepidante conjuntura mundial, espantou-se com o anúncio oficial da Casa Branca acerca do desmantelamento, no norte da Síria, do núcleo central de operações do famigerado Estado Islâmico (ISIS), em ação bem sucedida de um comando militar americano. Como foi amplamente explicado, os militares cercaram o reduto terrorista, dando um ultimato para rendição incondicional do supremo líder jihadista, que se matou junto com familiares e seguidores acionando uma carga explosiva.

Paralelamente a esse evento, na mesma região, tropas americanas e curdas promoveram uma ofensiva contra militantes da fanática falange muçulmana, impedindo fossem libertados centenas de prisioneiros. Os combates duraram uma quinzena, com centenas de mortos e muita destruição de prédios e instalações de uma cidade densamente povoada.

 O espanto a que nos referimos decorreria da suposição equivocada de que o Estado Islâmico representasse, a esta altura, carta fora do baralho na crônica sinistra do terrorismo internacional.  

A realidade, entretanto é outra. O ISIS não foi extinto.  Continua ativo, disseminando ódio, propagando suas tresloucadas e retrógadas teorias sobre o sentido da vida e das coisas, promovendo ações letais em áreas do Oriente Médio, uma sub-região da Afro-Eurásia, sobretudo da Ásia, e partes da África setentrional. Vem se esquivando, contudo, sabe-se lá bem por que, de operações impactantes noutros pontos do planeta. Caso, por exemplo, da Europa até recentemente, alvo prioritário de suas cruéis sortidas.

A paranóia ideológica fez com que o ISIS se tornasse reconhecido como “inimigo da humanidade”. Um agrupamento desvairadamente radical que se posiciona permanentemente contra tudo e contra todos. Na sanguinolenta contenda bélica Síria deparamo-nos com amostra do jeito de ser dessa organização. O EI trabalha pela deposição de Bashar al-Assad, que é apoiado por russos e iranianos, entre outros. Mas, ao mesmo tempo, envolve-se em choques armados frequentes contra contingentes militares empenhados, tanto quanto ele, na luta pela derrubada do governo de Damasco. Seja acentuado pelos americanos e curdos que integram coalizão anti Assad.

Analistas internacionais levantam suspeitas, de quando em vez, acerca do que teria levado os extremistas muçulmanos a interromper a escalada de violências em território europeu. Arriscam especulações em torno de um sórdido pacto clandestino firmado em bastidores geopolíticos, com compensações para os terroristas.

Veraz ou não, a inacreditável hipótese, merece atenção, aprestando-se naturalmente a comentários face a constatações intrigantes. Para um punhado de perguntas embaraçosas o que se obtém como respostas é um silêncio de tumba etrusca. Quem financia os jihadistas? Como se arranjam os terroristas para se municiarem com armas potentes, inclusive mísseis, sem que disponham nas áreas sob seu domínio de fábricas de armas? Como é que os apetrechos bélicos chegam até seus arsenais, se eles se acham concentrados em região rodeada por bem adestradas tropas inimigas? Quem paga os soldos de suas aguerridas tropas? De qual rede bancária se servem para suas inevitáveis transações financeiras? Alimentação, vestuário, sistema de comunicação, como todas essas coisas funcionam nos locais em que se movimentam? O combustível para seus veículos é fornecido por quem? Como o turismo escapa à vigilância e controle dos serviços de inteligência dos países, grandes potencias entre eles, comprometidos ao que se propala o tempo todo com a erradicação do terrorismo? Uma coisa parece certa, nesta tremenda “confusão das arábias”, a verdadeira história do Estado Islâmico esconde revelações inimagináveis em termos de maquiavelice hedionda.

Conforme já assinalado, alguns aspectos nefandos da história do Estado Islâmico permanecem ocultos por espessa cortina de silêncio. Uma constatação perturbadora salta aos olhos. Oficialmente, todos os países do mundo têm na conta de inimigo o agrupamento radical muçulmano. As próprias nações regidas institucionalmente pelos valores do islã repelem com veemência esses extremistas, expressando claramente que eles seguem uma linha extravagante herética na interpretação dos textos sagrados do Alcorão. Brota aí uma pergunta implacável: se todo mundo está contra, se as bases operacionais do ISIS são vigiadas permanentemente por terra, mar e ar, se seus militantes armados estão cercados, o tempo todo, por poderosos contingentes militares das grandes potências, como então essa organização terrorista continua  febricitantemente ativa, dispondo de apoio logístico suficiente, de armamento sofisticado, de veículos, combustível e toda sorte de suprimentos necessários para empreender ações belicosas em diferentes lugares do mundo? A história verdadeira do ISIS ainda está por ser contada em seus detalhes sinistros. A quem interessa manter inteiriça e atuante uma organização tão funesta?

“No Reino Saudita está localizada a fonte matricial do Jihadismo”. (Antônio Luiz da Costa, educador)

Indícios existem de que os terroristas do EI e de outras falanges, como a Al-Qaeda, contam com rede de simpatizantes, notadamente no mundo árabe. Não nos esqueçamos de que o príncipe saudita Osama bin Laden foi localizado e morto num prédio a poucas quadras de escola para preparação de oficiais do exército do Paquistão. Inaceitável supor que os governantes de Islamabad não tivessem ciência de sua presença ali.

No caso do Estado Palestino, o apoio recebido, qualquer que seja a sua origem, ultrapassa longe essa “tolerância”, essa “conveniência”, por assim dizer, de ocultação de informações a respeito da movimentação, de seus dirigentes graduados. Nas especulações de analistas experimentados é na Arábia Saudita que estaria situado o foco central da ajuda clandestina que garante a sustentação do ISIS. Muitos já disseram que a fonte matricial do jihadismo fica localizada no reino saudita. O jornalista e cineasta Michael Moore assegura que, nada obstante ocorra, no plano oficial, um alinhamento da retrógrada monarquia feudal saudita com os postulados das potencias ocidentais, destacadamente os Estados Unidos, em matéria de política internacional, segmentos sectários de grande força e influência nas decisões de Riad são os responsáveis pelo fornecimento dos  recursos que dão sustentação aos fanáticos terroristas. Esse comprometimento espúrio envolveria também, interesses petrolíferos. A Arábia Saudita, como sabido, é detentora das maiores reservas de óleo do mundo.

Moore relata, como reforço de argumentação dessa hipótese do jogo duplo supostamente praticado por setores fundamentalistas radicais próximos ao centro das deliberações do país, algumas situações bem desconcertantes. Segundo ele, os aviões sequestrados pelos terroristas que derrubaram as Torres Gêmeas em Nova Iorque foram conduzidos por pilotos da força aérea saudita. De outra parte, o anuncio da terrível tragédia de 11 de setembro de 2001, foi comemorada, de forma ruidosa na capital e em outras cidades importantes do reino saudita, por incrível que possa parecer.

*O jornalista Cesar Vanucci (cantonius1@yahoo.com.br) é colaborador do Blog Mundo Afora

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