Enfrentar a crise e achar soluções
Por Cesar Vanucci *
“Não se espantar com nada talvez seja o único meio.”
(Horácio)
As estarrecedoras revelações contidas nas gravações reservosas, feitas com próceres influentes pelo “muy amigo” Sérgio Machado – outro ativo protagonista do festival de bandalheiras que assola o país – não deixam margem a dúvidas. Quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar pode abrir mão, tranquilamente, das bolas de cristal, tarôs, búzios, ou quaisquer outros instrumentos utilizados pelos ocultistas em exercícios adivinhatórios, e antever com fervorosa convicção que a intrigante novela política brasileira reserva, prafrentemente, nova sequência de emocionantes capítulos. Com informações tão ou mais perturbadoras do que as até agora disseminadas.
“Não se espantar com nada talvez seja o único e melhor meio”, como aconselharia Horácio, de se conservar a serenidade nesta baita confusão das arábias. Confusão, como sabido, produzida por devastador conluio de corrupção montado com implacável desfaçatez por um bando bem identificado de políticos, empresários e agentes públicos despreparados e arrogantes. Apoderada de animadora expectativa, muita gente acreditava que os timoneiros da nau em movimento estivessem suficientemente aptos a conduzi-la pelas rotas de navegação traçadas rumo a porto seguro.
Mas, falar verdade, a sensação que se tem, neste preciso momento, é de que um nevoeiro espesso lançou-a num verdadeiro “mar de sargaços”, de transposição pra lá de dificultosa. A impressão deixada até aqui é de que os navegantes não se mostram a altura da importante missão que se lhes foi atribuída. É preciso rever as cartas de navegação, fazer uma releitura atenta e esmiuçada dos mapas. Olhar as estrelas de modo a reencontrar o caminho a ser singrado é dever indeclinável do comandante do navio.
As revelações vindas a lume, com seu inocultável teor conspiratório, indicativas de uma disposição nefanda de tentar abafar as investigações, levantam justificado clamor. Afinal, são apurações respaldadas na consciência cívica da Nação. A opinião pública repele com indignação as manobras urdidas nos ambientes penumbrosos frequentados pela politicagem miúda, confiante em que as instituições saberão reagir com rigor a tão sórdidas provocações.
Faz todo sentido, para analistas políticos dos acontecimentos, imaginar que outras situações extremamente desagradáveis estejam prestes a ser deflagradas. A sinalização de que isso possa ocorrer é abundante. Do Ministério recentemente constituído fazem parte, já desconsiderada a figura do defenestrado Romero Jucá, sete outros elementos na alça de mira da Lava Jato. O substituto do ex-ministro compõe a lista dos investigados da Operação Zelotes. Tem mais: é de molde a produzir desconforto, mesmo admitindo que os cidadãos escolhidos desfrutam de conceito profissional, a circunstância de que ex-patronos de causas do célebre deputado Eduardo Cunha estejam a ocupar funções relevantes no corpo ministerial.
E o que não dizer da presença danada de incômoda, claramente evidenciada, do supracitado parlamentar na linha de frente do esquema político dominante, a gozar de prerrogativas de mando e intervenções totalmente inaceitáveis? A ponto até de impor um nome de integrante de seu grupo, pessoa com prontuário desabonador e desqualificante, como líder parlamentar do governo recém-formado.
Um outro dado que confunde bastante o espírito popular diz respeito aos repentinos e estratégicos vazamentos de matérias confidenciais extraídas de processos que correm sob sigilo judicial. Salta aos olhos que os vazamentos obedecem a um método. Quem os promove? Com quais intuitos? Por qual razão os setores competentes se trancam em copas com relação a tão estranho e sistemático procedimento? Afigura-se indispensável que o Poder Judiciário ofereça à Nação uma palavra esclarecedora sobre essa sucessão de desconcertantes ocorrências.
A conjuntura política reclama das lideranças mais lúcidas, em todos os setores – é o próprio óbvio ululante – uma reflexão aprofundada. Reflexão essa que deve vir rapidamente acompanhada de ações capazes de caracterizar uma conjugação de vontades poderosa na busca de saídas justas, equilibradas, acordes com os generosos anseios coletivos e com o sentimento democrático, para as situações momentaneamente adversas que nos afligem.
A crise é de enorme dimensão. Nada, contudo, que um país como o Brasil, com suas invejáveis virtualidades, com sua concepção de vida calcada em utopias positivas e impressionante capacidade, historicamente comprovada, de resolver pacificamente conflitos agudos, não possa, respeitando valores e crenças inalienáveis, solucionar a tempo e a hora.
* O jornalista Cesar Vanucci (cantonius1@yahoo.com.br) é colaborador do blog Mundo Afora.