Viagem ao inesquecível patrimônio arquitetônico da Georgia
Por Maria Angélica Carneiro
Adentre pelas icônicas ruas do bairro antigo de Tiblisi, na Georgia, pelas mãos da especialista em viagens pelo mundo Maria Angélica Carneiro
Geórgia, Geórgia… quase totalmente desconhecida por mim, se não fosse por saber que foi onde nasceu Josef Stalin. Visitei o país, que está junto da Armênia, porque estava ali ao lado.
Primeiro, tenho que dizer que planejo tudo o que posso e seja possível. Ainda em casa verifiquei os meios de transporte disponíveis para cruzar da Armênia até a Georgia, por terra (trem ou ônibus). Vi que havia muita opção com horários e bastante accessíveis. Daí, pensei que em Yerevan teria tempo para decidir.
Mas, ao chegar no aeroporto de Barcelona, a Air France me pediu um comprovante (passagem) de entrada na Geórgia, pois estava indo para a Armenia e voltaria pela Georgia para Barcelona pela mesma companhia aérea, mas as autoridades georgianas exigem esse detalhe, a passagem da entrada no país, para saber por onde vais entrar e a data.
Diga-se de passagem que esses dois países não pedem visto para cidadãos da União Europeia. Tive que ir às pressas a uma lan house (dentro do aeroporto) e comprei a passagem online, de ônibus, pois era a mais fácil e assim teria o que foi pedido por eles, bem rápido. Como já tinha pesquisado e sabia o site onde buscar foi super fácil e barato!
Bom, como já contei minha estadia na Armênia, agora é a vez da ida de lá para a Georgia. São 275,3 km da Armênia, que são percorridos em 5 horas e meia, devido que a estrada em muitos trechos está dentro de cidades e tem também, paradinhas para o café e outras coisas (rsrsrsrs). Também, protocolos de fronteiras, como controle de passaporte e alfândega, então, este trajeto é feito em umas 6/6h e meia.
Evidentemente que pesquisei pela Internet e com o pessoal do hostel, por isso, já sabia onde tinha que ir e foi o que fiz quando chegou o dia. Era um horário bom para poder chegar em Tiblisi no começo da noite e como pedi transfer para o hostel de lá, teria gente para me apanhar. Daí que não estaria preocupada com nada.
Saí para a estação de ônibus, só que dizia que para o “ônibus” eu deveria passar na agência que faria o controle. Sem problema… mas depois não entendia nada: fiz tudo e só percebi depois que aí ou era o terminal de ônibus ou era uma sucursal dele, pois era tão pequena que mais parecia o escritório de uma agência de viagens (o que era na realidade), mas que, também despachava os passageiros, foi a minha conclusão. Mas, o melhor, falando de surpresas e divertidas, vêm agora: eu e outras 2 pessoas estávamos esperando o ônibus (no caso, eu, pois os locais já sabem), aquele ônibus normal que faz viagens, aí disseram que já estava, fui olhar e o que vi, foi uma Kombi/Van (não sei qual a diferença ……hahahaaaa……era o “ônibus”. Mas, tudo bem, é um meio de transporte, pouca gente para viajar e estou acostumada a usá-lo, só que em distâncias mais curtas, não de um país a outro!
Não imaginava que por aí tivesse essas peculiaridades bastante conhecidas por mim, haja vista minhas experiências super simpáticas pelo Sudeste Asiático, Ásia Meridional, no Brasil, também (entre bairros do Rio de Janeiro, na zona entre estações de metrô e alguns subúrbios, o que facilita muito), etc.
A paisagem durante o percurso de ida para Tiblisi era bem agradável: Casinhas com construções bem feitas e diferentes, às vezes, parecidas a algumas já vistas por mim em algum lugar da Rússia, Lituania, Letônia e Estònia. Agradável de ver! Passamos pelo controle de fronteiras e alfândega sem problemas e paramos uma vez mais para tomar café/comer alguma coisa para não desmaiar de fome, até chegar ao destino.
Chegamos às 8:30 e comecei a perguntar onde estava a “dita cuja” (Rodoviária), pois foi onde marquei com a pessoa do hostel para me apanhar e, não via a pessoa, já que o condutor do veículo, parou num estacionamento em frente ao hotel e aí ficou. Então, me disseram que estava em frente, mas do outro lado da Avenida e ao esperar para atravessar, vi alguém do meu lado e falamos, aliás, eu, pois ele só falava russo e georgiano, mas ele disse meu nome e então, me alegrei. Super gentil e educado me levou até o carro e de lá fomos para a sua casa onde eles alugam quartos. Enfim, era ele!
Ao chegar, a mulher dele, Tina, já estava esperando e me recebeu de braços abertos. Ela fala inglês, mas fala, também, italiano. Aí foi melhor ainda! Adorei conhecer essas pessoas que me ajudaram bastante. São geniais e muito boa gente. Recomendo!
No dia seguinte, comecei minha “exploração” pelos arredores. Fui ao órgão de Turismo saber sobre passeios, museus, lugares para visitar e mapas. Essa zona da cidade tem uma parte antiga e outra algo moderna, mas, existe outra, que eles chamam “Antiga Tiblisi”, que é o Bairro Antigo.
Comecei a andar pelas ruas e me falaram que essa parte não era longe daí, e que fosse por determinado caminho que chegaria rápido sem me perder. Qual não foi a minha surpresa, ao chegar nessa zona e vi um centro arquitetônico maravilhoso! Totalmente parecido à arquitetura castelhana onde predominam casas de 2 andares, com varandas lindas e de varias cores! Pensei, será que não saí da Espanha, ou é que voltei e não percebi?!
Realmente, uma alegria para os olhos, pois havia construções de vários modelos e cores. Incluída uma parte que está no alto perto do centro e também, às margens do rio Kurá, que banha a cidade, e, ao redor, há casas nesse estilo e iguais às penduradas como as de Cuenca, na Espanha. Lindérrimas!
Logicamente que fiz minha caminhada nesse e nos outros dias: aí era onde acontecia tudo! E, rodando, rodando ali mesmo vi um restaurante com uma bela bandeira espanhola e fui lá tomar café e merendar. Bati um papo com o dono que lá estava e foi bastante agradável o contato. Estive por lá outras vezes durante a minha estadia, pois além do mais, ali é onde acontece tudo, isto é, nessa parte de Tiblisi.
De lá fui até à parte alta/altíssima da cidade, em teleférico para subir até a muralha ou até a fortaleza de Narikala, tudo isso a um preço bem baratinho com uma vista sensacional! Também passei pela Ponte da Paz e andando, cheguei ao bairro Abanotubani, um dos bairros mais antigos e pitorescos. Onde stão as termas (banhos turcos) onde eles estavam assentados há anos. Muito interessantes, sem esquecer o mais diferente pela fachada que se chama Orbeliani. Bem bonita!
O bom de estar pelo Bairro Antigo com suas ruas e ruelas, ladeiras e contornos sinuosos, lindas praças e igrejas, é que de lá podes ir pela parte moderna e a super moderna com construções futuristas e voltar passeando pelo panorama das varandas coloridas, um montão de bares e restaurantes, muitos com música, muita arte e vida noturna e uma culinária rica em sabores.
MIX – A Geórgia é um país com uma mistura entre oriente e ocidente, entre o comunismo e a religiosidade (católica ortodoxa), liberação do regime soviético nos anos 90 e depois um conflito/guerra com a Rússia em 2008 (Guerra dos Cinco Dias), na região onde está a Ossetia do Sul e a Abjasia. Se existe tensão no ar, não se nota, pelos menos, para os de fora, pois é muito tranqüilo. Deve ser que eles não estão para guerras, sem necessidade alguma!
É um país entre as montanhas do Cáucaso e o Mar Negro, perto da Russia, Turquia, Armenia e Arzebadjão. As altivas torres medievais de Svaneti, assim como, os mosteiros medievais com séculos de historias e, para reafirmar o orgulho dos georgianos sobre a origem do vinho, os vinhedos milenários existentes nos vales mais orientais.
Outro detalhe importante da história deles é sobre a origem do vinho, que dizem ser daí do Cáucaso, nessa região onde está situada a Geórgia e que fica pertíssimo da Armenia). Visitei algumas caves/bodegas e fazem jus ao bom vinho. Recentemente, foi encontrada aqui, a bodega mais antiga, datada do ano 8.000 A. C., confirmando que está situada neste país a produção mais antiga de vinho. Os georgianos, não perdem tempo e fazem jus a essa realidade, pregoando aos 4 ventos.
Não pode faltar uma visita à antiga capital, Miskheta, Gori, cidade natal de Stalin, à Basílica Antchiskhati de Santa Maria, ao antigo e abandonado (uma pena) Museu de Arqueologia, visitar os dois principais museus (maravilhosos), a casa caleidoscópica, os edifícios da época soviética entre outros.
Quando visitei o Museu Nacional da Geórgia aconteceu uma coisa bem engraçada: ia olhando os quadros, e em uma das salas, onde estava uma senhora, funcionária do mesmo, conversei com ela e, nesta sala estava o retrato de Stalin. Então, falei que a figura sendo daí, isto poderia ser algo que eles dessem uma conotação especial e perguntei qual a sensação que eles tinham sobre ele.
Ela “enfurecida” disse varias coisas não agradáveis sobre o referido e fez um gesto que nós conhecemos como “banana” em direção ao retrato dele! Nossa, dei muita risada…. mas, ela continuava dizendo que tudo o pregoado por ele (o comunismo) foi um engano, uma perda de tempo, o tanto que sofreram, que ela sentia vergonha que Stalin fosse da Geórgia, etc. etc.
Poder dizer tudo o que ela pensava, era o máximo, pois falando com uma turista, no caso eu, não ia dar problema nenhum, porque, podia desabafar e arrasar com o “mito”. Desabafo mesmo, gente, pois em outra época seria impossível ….rsrsrsrs…..Foi diferente e divertido ao mesmo tempo! Como a roda gira de maneira totalmente diferente, com o desenrolar da história!
ECONOMIA – A moeda é o Lari georgiano que equivale a: 1 euro = 3,59 GEL. O custo de vida é bem barato e, mais ou menos igual que o da Armênia. Comer, beber, passeios e hospedagens são relativamente baratos sendo que há coisas mais baratas que outras, mas, o resultado é ótimo para a economia de quem viaja. Para fazer câmbio de moeda, não tem erro: nos bancos em seus horários abertos.
Agora vem a parte que me deixou de “boca aberta” e, ao mesmo tempo, fascinada. Uma questão de história: há 5 séculos atrás, a parte oriental da Georgia atual era o reino da Iberia e a capital em Miskheta, cidade que, também conheci, portanto, aí viviam os iberos, e a chamavam Ibéria Caucásica. Então, fiquei sem entender.
Mas, é que, curiosamente, os gregos também chamavam Ibéria (país dos iberos) à maior parte do que é a Geórgia atual, a qual chamavam Ibéria caucásica. Da mesma forma que, mais tarde, denominariam, também, ao território onde está situada a Espanha, Península ibérica, ao encontrar nela o mesmo tipo dos referidos iberos que lá viviam (na Geórgia atual).
Como os iberos, sempre viviam às margens de ríos e o nome Iber, quer dizer, rio, daí o gentilicio. Ocupavam o vale do rio Ebro, do rio Segura e, praticamente em todos os canais que desaguavam no Mediterrâneo, incluído na França. Daí, a explicação. Agora, até eu entendi.
Há muitos monumentos para visitar e a proporção que passavam os dias, ia sabendo de alguma coisa a mais para visitar e assim o fiz.
Sobre as varandas existentes na arquitetura de Tiblisi, por ai passaram persas e otomanos, portanto, explicado. E a origem delas aqui, na Espanha vem da época muçulmana. E combina com o anterior. Porém, a origem delas, no mundo, vem da civilização minóica, então, tenho que pesquisar (sou uma curiosa tremenda), sobre esta civilização que apareceu na Ilha de Creta, na Grécia.
Pois bem, uma viagem que se transformou em “aventura” e uma “aventura” que era a viagem que eu sonhei e planejei: fez bem à alma e ao coração, por todas as coisas que vi e admirei. Maravilhosa! Até a volta e até a próxima!