Biodiversidade deslumbra entre Mora d’Ebre e Miravet

As duas pequenas e acolhedoras cidades da comarca de Ribera d’Ebre, na Catalunha, estão às margens do rio que serpenteia por vales e montanhas e alberga uma grande biodiversidade

Dois rios importantes marcam a paisagem da Catalunha: o Llobregat e o Ebre. Quem vive em Barcelona ou faz turismo na cidade, cruza com o Llobregat com frequência, uma vez que o curso d’água desemboca no Mediterrâneo perto da capital catalã. Já para apreciar o Ebre é preciso ir ao interior, o que vale a pena e que recomendo após ter conhecido um pedacinho da região em 2021. O roteiro que traço agora é de janeiro de 2022, de Mora d’Ebre a Miravet. 

As pequenas e aconchegantes cidades ficam na comarca de Ribera d’Ebre, às margens do rio que abriga uma rica fauna e flora e serpenteia vales e montanhasMora d’Ebre está a 131 quilômetros de Barcelona e se chega facilmente em trem, numa viagem de aproximadamente duas horas. 

Ao atravessar a ponte que abre passo à cidade a primeira imagem que se descortina é a dos sobrados coloridos refletida nas águas do rio. A pequena Mora recebe o visitante com a calma dos pequenos “pobles” catalães

Entardecer em Mora d'Ebre
Casarões coloridos emolduram paisagem em Mora d’Ebre às margens do rio

Nos instalamos no primeiro andar de um prédio com três andares. Foi a escolha certa. Com janelas de frente para o Ebre, dali a primeira vista que tivemos foi a das diversas espécies de pássaros voando ou flutuando sobre a água. Das duas varandas do apartamento, se podia ficar horas observando o espetáculo brindado pelas aves. 

Cegonha no Rio Ebre
Garça deslizando em voo lento sobre o rio Ebre

Melhor ainda, andar pelas margens do rio e fotografá-las, já que as aves não se imutam com a presença humana. E foi isso que fizemos em uma tarde e duas manhãs, chegando a retratar 24 espécies. Andamos pela estrada, nos metemos pelo bosque de árvores que há nas proximidades e além de praticar a fotografia, nos divertimos escutando os diferentes cantos dos pássaros.

RESERVA – Apesar de desfrutar da proximidade dos pássaros na “porta de casa”, nosso objetivo de viagem era estar próximo da Reserva Natural de Sebes, uma área preservada de 250 hectares, com zonas de águas livres ou zonas húmidas, matas ribeirinhas, ilhas e braços fluviais na beira do grande rio Ebre. A grande diversidade de habitats existentes faz da reserva um ponto importante para a conservação da biodiversidade, tanto da fauna quanto da flora e da vegetação. Algumas das espécies presentes são classificadas como escassas ou muito raras na Catalunha, ou mesmo como endêmicas. 

Dentro da reserva, o visitante pode escolher fazer as diversas rotas indicadas, passando pelos pontos de observação onde a maioria é aficionada por fotografar a natureza, levando consigo equipamentos fotográficos munidos de lentes de grande alcance para captar com todo detalhe as imagens dos pássaros.

Não é para menos, na área se contabiliza o avistamento de mais de 200 espécies de pássaros, com a frequência determinada pela época do ano. Do passeio que fizemos, com 4 km de ida e volta e paradas nos principais pontos de observação, trouxemos imagens de diversas delas não apenas nos arquivos da câmera, bem como no registro da memória. Algumas inesquecíveis, como o Guarda-rios, chamado de Blauet em catalão por conta da sua brilhante plumagem azul das asas que se mistura com o laranja não menos luminoso da barriga. 

Blauet
O Guarda-Rios, conhecido como Blauet na Catalunha, é uma das estrelas da Reserva Natural de Sebes

O pequeno pássaro deixou-se fotografar parado em galhos de árvores, arbustos e em pleno voo. Além desse precioso espécime, outras aves bailaram diante dos nossos olhos, como grandes cegonhas, águias-sapeiras e múltiplas espécies de patos. 

Cegonha Branca
Cegonha Branca, uma das espécies protegidas na Reserva Natural de Sebes

Estávamos ansiosos por avistar as lontras que estão se reproduzindo na área. Escutamos movimentos nas águas das lagoas, mas não foi possível a visualização. Quem sabe em uma próxima visita?

MIRAVET – No último dia de viagem, seguimos para a vizinha cidade de Miravet, famosa pelo castelo com o mesmo nome que pertenceu à ordem dos Templários. De cima da montanha onde está incrustada esta talaia se pode ver o rio Ebre serpenteando os vales e desaparecendo no horizonte. Dentro da fortaleza se faz uma viagem no tempo e na história medieval

Miravet
Cidade de Miravet, com o castelo encrustado na montanha

A antiga vila de Miravet foi construída numa falésia pelos árabes que também decidiram construir um imponente castelo. Após a reconquista, a construção foi convertida em fortaleza-mosteiro dos Templários no ano de 1153. Construído sobre um povoado ibérico e sobre a antiga fortaleza muçulmana, o conjunto, dos séculos XII e XIII, é considerado um dos melhores exemplos da arquitetura românica de transição, religiosa e militar, da Ordem do Templo, em todo o Ocidente. 

O castelo de Miravet foi a sede provincial dos Templários na Coroa de Aragão e entre 1307-1308 sofreu um longo cerco nas mãos de Jaime II. A Ordem do Templo foi abolida e o castelo passou para as mãos dos Hospitalários, senhores do castelo até 1835. O castelo está em boas condições, apesar das muitas guerras das quais foi testemunha, como a Guerra dos Segadors, a Guerra de Sucessão, a Guerra Francesa, as Guerras Carlistas e a Batalha do Ebro, esta última em 1938.; além de tentativas diversas de demolição. Mas o castelo de Miravet resistiu e permanece majestoso, sendo um dos monumentos mais visitados nas Terres de l’Ebre.

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