Um rosto de paz comove o mundo no desolador cenário da guerra na Síria
Foto de bebê dormindo tranquilamente dentro de mala em meio à guerra da Síria comove o mundo no dia em que 80 civis perderam a vida nos ataques a Guta e Afrin
Um pai sírio carrega a sua mais preciosa bagagem depois de um breve cessar fogo ter permitido que milhares de civis fugissem do intenso bombardeio sobre Guta Oriental, nesta sexta-feira, 16 de março. A imagem da Unicef divulgada nas redes sociais comoveu o mundo ao retratar o rosto de paz no meio de uma intensa guerra que já dura mais de oito anos com mais de meio milhão de mortos.
O bebê dorme tranquilamente dentro numa mala, alheio à violência ao seu redor, enquanto é carregado pelo seu genitor no dia em que se estima que 12 mil pessoas fugiram do enclave rebelde sírio através de um corredor que liga esta zona às áreas controladas pelas forças do regime de Bashar Al-Assad.
“Enquanto continuamos a providenciar assistência de emergência, apelamos a todas as partes do conflito que nos permitam fazê-lo em segurança. A vida de crianças depende disso”, apelou a Unicef.
Muitas outras cenas tocantes foram registradas hoje não apenas em Guta, mas também em Afrin, no norte do país, onde calacula-se que 42 mil pessoas já conseguiram fugir. Na bagagem, o pouco que sobrou e a esperança de encontrar um lugar de paz para criar os filhos que sobreviveram. Nas duas regiões comboios de resgate providenciaram a saída dos civis presos em meio de um intenso bombardeio que tirou a vida de 80 pessoas nesta sexta-feira, entre elas 14 crianças, nas cidades de Kafr Batna e Saqba, segundo o Observatório de Direitos Humanos.
Guta e Agrin estariam sendo atacadaa por aviões russos e turcos, aliados do governo do ditador Bashar Al-Assad. Há denúncias de que a aviação russa está fazendo em Guta uso de bombas de fragmentação, conhecidas como cluster bombs, que se dividem em muitas dezenas de projéteis explosivos, e são de uso proibido por tratado internacional.
A informação é negada pelas forças russas, que alegam não estar participando de ataques na região. Guta, nos arredores de Damasco, é atualmente o principal bastião da oposição ao regime de Al-Assad e nas últimas semanas tem sido alvo constante do exército sírio e dos seus aliados.
Em Afrin, a responsável pelos ataques é a Turquia, que quer esmagar as milícias curdas sírias YPG, considerada pelo país uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado por eles como uma organização terrorista. A cidade de cerca de 200 mil habitantes está cercada e o maior hospital da região foi bombardeado nesta sexta-feira. O abastecimento de água foi cortado por conta do bombardeamento aéreo interminável.
Os informes do Gabinete de Assuntos Humanitários da ONU dão conta que entre 12 a 16 mil pessoas abandonaram a região de Guta, enquanto 48 mil saíram de Afrin. A entidade calcula que na região vivam cerca de 400 mil pessoas. As mortes desta sexta-feira elevam para pelo menos 1346 as vítimas mortais na ofensiva contra Guta desde 18 de fevereiro, entre eles 270 menores e 173 mulheres.