Faróis iluminam Catalunha no momento mais crítico após referendo de independência
Projeto “Luz e liberdade”, que ilumina montanha de Montsserrat com 131 faróis, pede unidade estratégica além dos interesses de partidos em momento que Catalunha sofre bruta repressão do estado espanhol
Na véspera do aniversário de dois anos do referendo de 1º de outubro, a Montanha de Montserrat, uma das mais emblemáticas da Catalunha, foi iluminada por 131 faróis. Os pontos de luz foram colocados pelo projeto “Luz e Liberdade”, impulsionado pelos Artistas da República, Assembleia Nacional Catalã (ANC) e a Federação de Entidades Excursionistas de Catalunha, com o apoio de Òmnium Cultural.
O ato realizado no final da tarde desta segunda-feira contou com a participação de 500 escaladores, com o propósito de exemplificar “a necessidade de buscar unidade estratégica em direção a um horizonte de independência e liberdade que vá mais além dos interesses dos partidos”. Também presta uma homenagem aos 131 presidentes da Catalunha até a atualidade.
Os faróis ficarão acesos até as 7h45 da data em que se rememora a realização do referendo de autodeterminação, no qual mais de dois milhões de eleitores foram às urnas responder se queriam um estado independente em forma de república. Aquele dia, quando a polícia atacou com violência os eleitores, deixando mais de mil feridos, na tentativa de impedir a votação, ficou marcado pela o exemplo dos catalães, que resistiram pacificamente aos golpes de cassetetes da Guarda Civil e Polícia Nacional.
Os faróis, vistos de vários pontos do território catalão e que possibilitaram que a montanha fosse vislumbrada mais além, iluminam o território num momento delicado. No qual a repressão espanhola está em seu ponto auge. É esperado para os próximos dias o anúncio da setença dos nove presos, entre ativistas e políticos, extamente por conta da realização do referendo, em 2017, e posterior proclamação da república.
Esperam-se duras penas para os presos políticos, com condenações que podem chegar aos 25 anos de prisão. Além disso, pelos últimos acontecimentos, o estado espanhol prepara uma investida contra os exilados, entre eles o presidente Carles Puigdemont. Meios de comunicação de Madri estão alimentando o relato de que Puigdemont teria planos terroristas para conseguir instaurar a república.
Isso depois da prisão de sete pessoas, na semana passada, que fazem parte dos chamados Comitês em Defesa da República (CDRs), que estão sendo acusados de posse de explosivos e de terrorismo, por estarem com planos de atentar contra alvos do estado. Uma versão difícil de acreditar para quem conhece de perto o movimento independentista catalão.
Contudo, a versão estatal tem prevalecido e agora muitas das manchetes de jornais, rádios e TV informam que os CDRs presos teriam ligações com Puigdemont e com o atual presidente da Catalunha, Quim Torra. Ambos integrantes da coalizão Juntos por Catalunha, que comanda o governo da Generalitat atualmente.
Especialistas em direito já detectaram que esta versão que vem sendo filtrada para os meios de comunicação unionistas pretende reforçar o relato de que o movimento independentista é violento. E com isso, conseguir a extradição de Puigdemont e dos demais exilados na Bélgica, Escócia e Suiça.
Nesta terça-feira, depois que se pagarem os faróis de Monteserrat, diversos tipos de atos estão programados em toda Catalunha para rememorar o 1º de outubro. Evento que ainda não foi bem digerido pelo governo espanhol que tenta cortar as asas do movimento independentista, agora sob a batuta do primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, que é candidato à recondução à Moncloa. A repressão a Catalunha parece ter virado seu objetivo de campanha, visto que em seus comícios repete insistentemente que pode voltar a intervir na região através da aplicação do artigo 155 da constituição.
Apesar da resistência dos que defendem a independência, a Catalunha vive um momento de desorientação política, sem acordo entre os tres partidos independetistas. Juntos por Catalunha, Esquerda Republicana e Candidatura de Unidade Popular (CUP) não conseguem entrar em acordo, facilitando o trabalho de represão do governo espanhol.
Apesar das luzes que iluminam Monteserrat, o futuro na Catalunha parece nebuloso.