Claudia Canto fala em Barcelona sobre escrita de biografias de mulheres imigrantes
Escritora brasileira estará na cidade no próximo dia 18 para realizar a palestra “Riqueza ignorada, a grande descoberta”, na Associação Capoeira Banzo de Senzala
A escritora e biográfa Cláudia Canto estará em Barcelona esta semana para realizar a palestra “Riqueza ignorada, a grande descoberta”, na qual conta como adentrou no mundo da literatura, criou um selo próprio e se dedica a escrever biografias de mulheres imigrantes. O evento, com apoio do Grupo de Mulheres do Brasil, acontecerá no dia 18, a partir das 18h, na Associação Capoeira Banzo de Senzala.
Com 18 livros publicados em português, inglês e alemão, Cláudia estreou no universo literário com “Morte às Vassouras”, narrativa autobiográfica na qual conta sua experiência trabalhando como empregada doméstica em Portugal, quando esteve praticamente em exílio domiciliar fechado. A obra ganhou o mundo e foi apresentada em locais importantes, dentre os quais Universidade de Oxford, Glasgow, Kings College em Londres, Casa do Brasil em Portugal, Unicamp e Universidade de São Paulo (USP).
Agora a escritora se dedica a narrar as vivências de outras brasileiras, que como ela, passaram por alguma experiência traumática como imigrantes na Europa. No processo de criação dessas biografias, Cláudia recebe as narrações em áudio e aos poucos vai desfiando suas histórias em sinergia com essas mulheres. Para esse trabalho, Cláudia conta com uma equipe que garante todo o processo de produção do livro, publicação, tradução para o inglês e alemão e divulgação.
Oriunda do bairro Cidade Tiradentes, na periferia de São Paulo, Cláudia explica que cada livro proporciona cada aventura e aprendizado para ela e as mulheres que decidem fazer públicas suas histórias. Em entrevista que concedeu à página Migrant Women Press, ela explica que o trabalho que realiza também é um processo de cura, já que o ato de contar suas histórias, muitas vezes se torna terapêutico, já que muitas mulheres curam feridas que ficaram abertas.
“Essas narrativas as ajudam nesse contexto, porque elas se ouvem depois que me mandam o áudio e começam a entender em que momento elas se perderam na vida. Freud mesmo dizia que no processo terapêutico falamos mais e o terapeuta nos ouve, porque quando falamos conseguimos encontrar as linhas que ficaram soltas nas suas vidas e que nos levaram para determinadas situações”, explica na entrevista.
Ainda segundo relata na entrevista, “na maioria dos casos das mulheres brasileiras que estão na Europa, há sempre uma linha tênue que as une e que me une também porque eu também vivi como imigrante sem documentos na Europa”. “Normalmente essa linha é de assédio moral, assédio sexual, abusos e discriminação. Então, essas feridas são muito similares. O que diferencia essas histórias é a infância e como essas mulheres se moldaram para enfrentar tudo isso”, explica Cláudia.
Ela sente que hoje é o melhor momento para se dedicar a esse trabalho que ela vê como missão. “Eu alcancei uma maturidade para falar sobre esses assuntos”, ressalta.