Maquinaria repressiva espanhola não intimida Puigdemont, que garante referendo na Catalunha
A maquinaria repressiva do governo espanhol não amedronta o presidente da Catalunha, Carles Puigdemont (Juntos pelo sim). Em entrevista a jornalistas estrangeiros, que recebeu no Palácio da Generalitat ontem (23), na tradicional Diada de Sant Jordi (São Jorge), ele garantiu que fará um referendo sobre a independência até setembro.
“Não menosprezamos as ameaças, mas elas não nos paralizarão. Não contemplo outro cenário que não seja votar”, sentenciou. Em fevereiro passado, o primeiro ministro Mariano Rajoy (PP) deixou circular que poderá recorrer ao artigo 155 da Constituição, que permitiria a intervenção na administração catalã caso Puigdemont siga adiante com seu plano.A estratégia de Puigdemont para confrontar Madri é realizar o referendo com a chancela de todo o secretariado do governo e dos deputados independentistas. Isso obrigaria Rajoy, que tem recorrido ao Tribunal Constitucional (TC) para inabilitar políticos soberanistas, a ter que processar de uma única vez mais de uma centena de políticos. O que exporia o governo espanhol diante da comunidade política internacional.
“A decisão de realizar o referendo é de todo o governo, portanto coletiva, e respaldada pela maioria do parlamento regional”, garantiu Puigdemont, ao dizer que a votação terá caráter vinculante e uma pergunta única. “Assim esperamos atrair a maior participação popular possível”, disse. Isso também difereciará o pleito da consulta feita pelo ex-presidente Artur Mas em novembro de 2014, que não teve efeito vinculante e foi organizada por voluntários e por entidades da sociedade civil.
Mesmo com tais planos, Puigdemont deixa a porta aberta ao diálogo. “Nossa intenção é realizar um referendo acordado e estaremos na mesa de negociação até o final”, garantiu. Ele informou que já tem algumas datas em vista para a votação, mas não pretende bater o martelo agora. “Antes das férias de verão deveremos comunicar a data”.
O presidente catalão disse ainda que a pretensão é realizar a votação dentro dos padrões utilizados até agora para eleições gerais ou autonômicas. Ou seja, sem a participação dos residentes estrangeiros, que na Catalunha chegam a 17% dos 7,5 milhões de habitantes. “Manter as regras atuais serve para não pôr em risco a legitimidade do pleito”, explicou. Outra preocupação é com relação à participação dos funcionarios públicos, que segundo ele serão preservados na organização do referendo.
Caso a opção pela independencia seja majoritária no referendo, a meta do governo catalão é proclamar a república e votar uma nova constituição com amplo apoio popular, o que facilitaría o reconhecimento do novo Estado na Comunidade Europeia.