Primeiro ministro da Espanha assume com tema Catalunha pulsando sobre a mesa
Pedro Sánchez tomou posse hoje em Madri em cerimônia diante do rei Felipe VI, enquanto na Catalunha foi suspensa a intervenção em função da oficialização da equipe do presidente Quim Torra. Os mandatários têm como desafio encontrar solução dialogada para o conflito
O socialista Pedro Sánchez tomou posse como primeiro ministro da Espanha na manhã deste sábado com o tema Catalunha como uma das questões mais urgentes a tratar no seu governo. Coicidentemente, a cerimônia em Madri ocorreu a poucos minutos de diferença do ato no qual os secretários do governo do presidente catalão Quim Torra assumiram formalmente os cargos no Palácio da Generalitat, em Barcelona.
A oficialização do secretariado de Torra permitiu a suspensão automática da intervenção da Catalunha imposta desde em dezembro passado pelo então primeiro ministro Mariano Rajoy, exatamente com apoio de Sánchez. Contudo, as finanças da Generalitat ainda estão sob o controle de Madri e caberá do novo primeiro ministro decidir se mantém a medida.
O cerne da questão entre Catalunha e Espanha gira em torno do debate sobre o direito de autodeterminação defendido pelos independentistas, tabú para Sánchez. O socialista, que conseguiu chegar ao Palácio da Moncloa com votos de deputados soberanistas, vinha mantendo antes da eleição um discurso bélico contra defesores da independência. Nos últimos dias amenizou o tom, mas ainda não deu indicios se dará algum passo concreto para o distensionamento do conflito.
O certo é que os dois governos arrancam com a mesma prioridade, que é recuperar o diálogo perdido depois da frustrada proclamação da república na Catalunha em outubro de 2017. A prisão e o exílio dos líderes políticos soberanistas e a dura perseguição a entidades e cidadãos defensores da independência por parte de governo e justiça espanhola alimentaram durante estes meses um clima de tensão permanente que incomoda muitos parceiros europeus.
O desafio aos dois governos é qual o caminho seguir para uma eventual solução política do conflito entre a Generalitat e a Moncloa. A primeira incógnita a resolver será a data de uma reunião que Torra e Sánchez se comprometeram a fazer.
Na última sexta-feira, o presidente catalão reiterou a sua mão estendida ao diálogo. Contudo instou o novo chefe do executivo espanhol a “arriscar-se” e tomar a iniciativa com Catalunha. Torra já deixou claro em seus discursos que Sánchez foi “cúmplice” da aplicação do artigo 155 (intervenção) e da repressão estatal, “sem levantar o dedo para denunciar a existência de presos políticos e exilidos”.
Depois da posse do seus 13 secretários na manhã de hoje, Torra autorizaou a colocação de uma faixa na entrada do Palácio da Generalitat, pedindo a libertação dos presos políticos e exilados. Sete políticos, entre eles o ex-presidente Carles Puigdemont, estão fora da Espanha para defender-se da repressão espanhola, e nove se encontram presos em Madri, entre eles o ex-vice-presidente Oriol Junqueras e a ex-presidenta do parlamento da Catalunha, Carme Forcadell. Todos são acusados de rebelião e malversação de fundos públicos no proceso que investiga a proclamação da república.
Diante deste cenário, os próximos dias serão de expectativa sobre quem dará os primeiros passos e se poderá prosperar a via do diálogo.