Deputada brasileira reputa de “imoral” ação tardia do governo espanhol no caso do Open Arms
Maria Dantas (ERC) foi destaque no plenário do Congresso Espanhol ao criticar postura do primeiro-ministro Pedro Sánchez no caso do resgate humanitário de migrantes no Mediterrâneo por barco da ONG
Um dos destaques da sessão plenária desta quinta-feira (29) no Parlamento espanhol foi a deputada Maria Dantas, do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). A advogada brasileira com militância na área de direitos humanos e defesa dos migrantes criticou a “inação” do primeiro-ministro Pedro Sánchez (PSOE) no caso do barco catalão Open Arms, que passou mais de 20 dias à espera de um porto para desembarcar os refugiados resgatados no Mediterrâneo.
Impedido pelo então ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, de desembarcar nos portos do país, mais próximos à área de resgate na costa da Líbia, o barco da ONG de ação humanitária foi ignorado pelo governo da Espanha. Que só se manifestou depois que a justiça italiana obrigou a Salvini a autorizar o desembarque na ilha de Lampedusa.
“Não há nenhuma lei, norma, tratado ou acordo, nada, que esteja por cima da vida humana. A tardia resposta do governo oferecendo porto aos migrantes não o desculpa de sua prolongada e imoral inação”, disse Dantas no púlpito do Congresso dos Deputados, em Madri.
A fala da deputada repercutiu nas redes sociais em função não apenas do retardo de ação do governo da Espanha, que depois do desembarque do Open Arms resolveu acolher 16 dos mais de cem refugiados salvos de morrerem no mar. Mas também pela crítica à União Europeia, que se manteve inerte enquanto o Open Arms informava que a situação no barco estava ficando insustentável depois de tantos dias à espera de uma resposta.
Coincidentemente hoje o barco, que estava retido na Itália após desembarcar os migrantes, foi liberado pela justiça para zarpar. O Open Arms, embora se dedique a salvar vidas no Mediterrâneo, onde migrantes vindos principalmente da Àfrica fogem de guerras e da fome, vem sendo alvo de sanções exatamente pelo trabalho humanitário que realiza.
Dantas falou na sessão extraordinária na qual a vice-primeiro-ministra Carme Calvo foi instada a explicar a atuação do governo espanhol no caso do resgate humanitário do Open Arms.
Maria Dantas destacou que “sobreviver não é delito” e pediu respeito aos direitos das pessoas migrantes. Ainda recordou que a ação tardia de Pedro Sánchez não lembrou em nada o então candidato ao governo da Espanha, que há 14 meses atrás abriu os braços para receber migrantes resgatados do Mediterrâneo por outro barco de ação humanitária, numa campanha opotunista e mediática naquele momento de campanha eleitoral.