Avalanche de refugiados envergonha Europa
O aumento diário do número de famílias que chega à Europa fugindo de países em conflito – se arriscando em frágeis embarcações no mar ou tentando cruzar as fronteiras por terra – está obrigando os mandatários europeus a posicionarem-se.
O assunto foi pauta de reunião realizada nesta segunda-feira, 24 de agosto, entre os presidentes da Alemanha, Angela Merkel, e da França, François Hollande. Especula-se que a proposta de estabelecer-se cotas de imigrantes para serem recebidos por cada países – recusada recentemente – volte a ser discutida.
É cada vez maior a pressão para que se encontre uma política comum diante deste drama humanitário sem precedentes. “Ou Europa encontra sua alma ou a perde de verdade”, declarou Paolo Gentiloni, ministro de Assuntos Exteriores da Itália, que confessou estar preocupado ante a avalanche migratória e fez um alerta: “Europa corre o risco de mostrar o pior de si, por egoísmos, decisões que cada um toma por sua conta e polêmicas entre os Estados membros”.
Gentiloni advertiu que “desde a costa siciliana a Kós, desde Macedônia a Hungria e a Calais (rotas mais frequente dos refugiados) as tensões aumentam e com o tempo poderão colocar em questão os acordos de Schengen (que tratam sobre a circulação de cidadãos europeus). Sobre isso, Gentiloni questionou: “Podemos imaginar uma União Europeia sem Schengen, uma volta às antigas fronteiras?”
Neste sentido, lembrou que os imigrantes não chegam a Grécia, nem a Itália, nem à Hungria, e sim à Europa. E por isso acredita que as normas de acolhida devem ser europeizadas. As declarações do italiano soaram como uma resposta às últimas declarações do ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maizière, que em entrevista à BBC não descartou a possibilidade de reintroduzir controles fronteiriços frente à pressão migratória.
Berlim enfrenta uma chegada alarmante de refugiados. Calcula-se que neste ano será quadruplicado o número de solicitações de asilo em relação a 2014, alcançando a cifra recorde de 800 mil. “Este é o desafio maior da Alemanha desde a reunificação”, afirmou o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel.
Gabriel criticou duramente a passividade de outros países europeus. “Creio que este é também o desafio maior da Europa, mais que Grécia e a crise financeira”, disse. Ele qualificou de “grande vergonha” que “a maioria dos estados membros diga que isto não é problema deles”.
O alemão também criticou as Nações Unidas. “É uma vergonha que a ONU intervenha em uma ilha grega, que pertence à Europa, quando deveria a ajudar a países como Líbano ou Jordânia, que estão sobrecarregados com a chegada de refugiados sírios”.
Itália também padece com a chegada massiva de imigrantes à costa, com 4.400 nas últimas horas — e mais de 100 mil este ano. Pelo Tratado de Dublim, os imigrantes que chegam a Itália ou Grécia e pedem asilo não podem sair daqueles países.
Até agora, a União Europeia só realizou uma reunião extraordinária sobre imigração, em abril passado, após vários naufrágios no Mediterrâneo, que custaram milhares de vidas.
Números
Um total de 107.500 pessoas — da Síria, Afeganistão, Eritreia, Iraque e Sudão do Sul — atravessaram o Mediterrâneo para alcançar a Europa em julho, segundo a Agência Europeia de Controle Fronteiriço (Frontex). Esse número é o triplo de 2014. Calcula-se que 30 mil pessoas tenham perdido a vida neste intento, segundo cálculos da Organização Internacional das Migrações.
Diante de tamanha tragédia, Bruxelas parece reagir tarde aos olhos das agências internacionais, ONGs e dos próprios cidadãos europeus, uma vez que 38% deles pensam que a imigração é o principal problema comunitário, segundo pesquisa recente divulgada, frente a 24% no ano de 2014.