Viva o povo brasileiro, Ubaldo… Morto ou vivo

O Brazil não merece o Brasil. O Brazil tá matando o Brasil”. (Aldir Blanc)

*Por Flávio Carvalho

Somente metade de todo o dinheiro de um único banqueiro, o banqueiro mais rico do mundo (entre todos os banqueiros bilionários do mundo, o maior de todos, sim, é brasileiro – Zé Safra, o dono do Banco Safra), com metade de todo o seu dinheiro, poderia assumir todas as despesas do chamado “Orçamento de Guerra” do (des) governo Bolsonaro, durante os seis meses que o Brasil necessita para superar todas as milhares (milhares!) de mortes provocadas nessa crise.

Um bom jornalista vale mais hoje que toda a equipe do Ministro da Economia. O dinheiro existe. O Governo sabe onde está. Bolsonaro não é louco. É genocida. Bolsonaro não é um absoluto idiota (meio idiota sim). Ele sabe que a crise da saúde não o derrubará, porque são os mais pobres que morrerão. Ele sabe que a crise econômica sim, o derrubaria. Por isso ele faz o que faz. Porque os mais ricos nunca se acostumarão a perder. Porque quem nunca teve não sabe o que é perder.

Mas a pior perda é aquela que a gente sente quando perde o que a gente já teve (principalmente quando a gente tem aquele apego, que a vida vai alimentando dentro da gente). Sendo assim, o brasileiro novo rico é o rei do apego. E o rico velho, o banqueiro, o herdeiro? Esse já nem sabe o que fazer com tanto dinheiro. Ele nem vive no Brasil. Ele vive no BraZil. Aquele, com Z.

Por isso o novo Ministro da Saúde (da morte, de fato) não veio pra cuidar da saúde e sim do dinheiro que o governo pensa que é do governo. De quem é o dinheiro do governo? É do povo.

O povo brasileiro tá aprendendo uma coisa: que tem dinheiro. Só não sabia onde o dinheiro estava. Ou sabia, mas não admitia (e nem vou falar em orçamento participativo). Mas agora o povo brasileiro é obrigado a admitir, cada vez mais, que sempre soube onde está o seu dinheiro. O nome disso é dinheiro público. O privado não é complemento; é o contrário. O que é de todos é de todos. O que é de um… É somente de um. Como o dinheiro do banqueiro, do herdeiro.

Por isso os fascistas sabem que o emprego e a fome são o argumento da barriga do pobre, do choro dos filhos do cidadão que vive na miséria – muitos que votaram nele. Por isso eles dizem que ficar em casa é coisa de comunista. E que o pobre tem que ir pra rua trabalhar… E morrer.

Como se trabalhar fosse coisa de fascista. E morrer, de comunista. O fascismo adora criar falsas dicotomias. O fascista adora dizer que não é fascista, por exemplo. Assim como adora dizer que tudo que não é fascista, é comunista. Foi assim que o novo fascismo brasileiro conseguiu dar golpe sobre golpe. E chamou aquilo de eleição (o golpe armado pelo juiz que virou ministro). Parece que a paulada doeu tanto que, algumas vezes, nos faz esquecer-se do golpe. Porque dói.

Por isso, quando Bolsonaro usar a palavra vida, desconfie do significado. Se ele acha que conseguiu apropriar-se da palavra Deus e da Bandeira Brasileira… Imagine do que esse homem ainda não pode ser capaz. Aliás, o segredo é superar o medo: imaginemos já (já; não somente imaginar!) um Brasil sem ELE. Collor só caiu no dia que a gente acreditou na gente. Da noite ao dia. “De repente”…

E como o Brasil é um país de um povo maravilhoso e tão cheio de vida, a gente resiste até a hora da morte a falar sobre a morte. Palavra que a gente tem medo até na hora de mencionar: “foi a óbito”, dizemos… E nos jogamos tanto na vida que qualquer gringo mal informado acha lindo pensar que a gente vive a vida todinha sorrindo. E talvez por isso a gente esquece o “Eu vim para que todos tenham vida”, e joga a hora da morte todinha pra cima da responsabilidade única e exclusiva de Deus. E é aí que os falsos profetas, os falsos messias, os pastores que fizeram das igrejas grandes empresas, aproveitam. No final das contas, funerária, ministro da saúde e dono de igreja…

O único brasileiro que eu conheci que falava da morte todo dia como se estivesse falando da vida, com alegria, “sem arrodeio”, era um índio. Aliás, uma índia. E não era um dia 19 de abril.

O que um fascista pensa de noite, no travesseiro, pode ser que ele não conte nem pra mulher dele.

E não diga nunca que fascista não pensa. Pensar ele pensa. O problema é que mente.

A pior mentira é aquela que a gente conta pra gente. E hoje eu aprendi: quanto mais fascista, “mais pior” de admitir.

Deus né brasileiro? Então é minha, e não de Bolsonaro, a bandeira brasileira.

*Flávio Carvalho é sociólogo (@1flaviocarvalho / @Quixote Macunaíma)

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