Rússia ironiza Espanha por vincular movimento independentista catalão ao Kremlin

Embaixada da Rússia na Espanha ironiza ação da justiça que vincula o país governado por Vladimir Putin aos independentistas catalães no processo de 2017. Ação policial na Catalunha prendeu 21 pessoas ligadas ao movimento

Operação desencadeada pela Guarda Civil sob as ordens do juiz Instrutor 1 de Barcelona, Joaquín Aguirre, com a prisão de 21 independentistas catalães, foi ridicularizada pela Embaixada da Rússia na Espanha. Batizada de Vólkhov, a ação tenta vincular o movimento independentista com o presidente russo, Vladimir Putin, que teria o suposto interesse de desestabilizar a União Europeia. Pelo relato da justiça, o governo russo teria oferecido 10 mil soldados e saldar a dívida catalã com a Espanha, em 2017, ao então presidente Carles Puigdemont. Em contrapartida, o líder catalão deveria levar adiante a de declaração de separaração da Espanha.

Em mensagem publicada na conta oficial, a Embaixada russa ironiza as informações divulgadas sobre a operação. “Olho: A informação que apareceu nos meios espanhóis sobre a chegada de 10 mil soldados russos a Catalunha está incompleta”. Na postagem há junto um fac-símile de um “comunicado” que acrescenta: “Faz falta colocar dois zeros ao número de soldados e o mais impactante de toda essa conspiração: As tropas deveriam ser transportadas em aviões ‘Mosca’ e ‘Chato’ montados na Catalunha durante a Guerra Civil e escondidos em um lugar seguro na Serra Catalã até receber por meio dessas publicações a ordem criptografada para agir.”

Desde a divulgação da operação, na madrugada da quarta-feira (28), meios de comunicação catalães começaram a alertas que a ação desencadeada em diversas cidades do território era mais uma “montagem” do estado para criminalizar e amedrontar o movimento independentista. Isso porque mesmo com presos condenados, exilados e mais de 2,8 mil represaliados pela justiça em função das ações empreendidas em 2017 para separar-se da Espanha, o movimento ainda não foi totalmente desmontado. Especialmente a ala comandada por Puigdemont, que ocupa assento como eurodeputado no Parlamento Europeu e, exilado na Bélgica, coordena a chamada Casa da República, mantendo articulação em prol da independência catalã. 

Entre os presos na operação empreendida durante toda a quarta-feira estão pessoas ligadas aos partidos independentistas Esquerda Republicada (ERC)  e Juntos por Catalunha (JxCat). O chefe do escritório do ex-presidente Puigdemont em Barcelona, Josep Lluís Alay, foi um deles. Outros nomes são: o ex-secretário de governo Xavier Vendrell, o editor Oriol Soler e David Madí, ligado ao expresidente Artur Mas. Dos 21 detidos na quarta-feira, nove ainda continuam presos e devem depor à justiça nesta sexta-feira (30). Mais de 30 ações de busca e apreensão foram feitas em empresas e domicílio dos investigados.

O juiz vincula os detidos com desvio de fundos públicos para financiar a estrutura de Puigdemont na Bélgica  e também os relaciona com as mobilizações de um movimento chamado Tsunami Democrático, que ano passado realizou diversas mobilizações contra a condenação dos líderes catalães presos. Os investigados também são relacionados a “estratégias de desestabilização” com colaboração russa, que envolveriam ainda Julian Assange e Edward Snodewn. As acusações são de malversação de fundos públicos, branqueamento de capitais, prevaricação, tráfico de influência, desordem pública e suborno.

IRONIA – Apesar da gravidade das acusações e do drama dos detidos – empresários, profissionais liberais e políticos catalães, entre eles o prefeito de Canet de Mar, Jordi Mir, – a vinculação do movimento independentista ao Kremlin foi ironizada. Nas redes sociais na Catalunha, a versão ganhou memes e foi tratada com humor, uma vez que muitos a consideram “inverossímel”. Um dos destaques foi criado pela humorista Dolors Boatella (@dolorsboatella), que fez uma montagem de Vladimir Putin montado em um urso entrando na famosa avenida Diagonal de Barcelona.

O nome da operação – Vólkhov – é rio o mesmo onde houve uma famosa batalha na Segunda Guerra Mundial da qual a Divisão Azul, do exército franquista, atuou conjuntamente às tropas de Hitler contra os russos. Vale lembrar que a Rússia deu apoio à república espanhola, proclamada antes da guerra civil no país que foi vencida pelo ditador Franco. E se diz que até hoje os espanhóis não perdoaram os russos por esta ajuda, que contava com a participação dos republicanos catalães.

PROTESTOS – Também houve protesto por parte dos partidos independentistas, organizações da socierdade civil e populares. Na manhã da quarta-feira, integrantes da ERC, JxCat e CUP, os três partidos independentistas, e representantes de entidades protestaram contra a ação diante da sede do governo catalão, em Barcelona. No início da noite foram registrados protestos populares em diversas cidades catalãs, entre elas Igualada, Girona e Caneta de Mar, onde houve algumas das prisões.

Protesto em frente do governo catalão contra prisão de independentistas
Integrantes de partidos e entidades protestaram contra prisão de independentistas pela Guarda Civil

No Twitter, Carles Puigdemont condenou a ação do estado espanhol “tenta a morte política e civil do independentismo porque três anos depois da declaração de independência continuam lutando por uma causa justa e democrática”. A ação policial em cumprimento da ordem judicial aconteceu um dia depois do aniversário de três anos da frustrada declaração de independência da Catalunha, publicada pelo então presidente Puigdemont.

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