Eleição na Catalunha tem na absteção chave para governo independentista ou unionista
Num pleito marcado pela pandemia, 5.368.881 de pessoas estão aptas a votar nas eleições para o Parlamento da Catalunha
O fantasma da abstenção é o grande protagonista das eleições para o Parlamento da Catalunha neste domingo, 14 de fevereiro. Segundo o censo eleitoral, 5.368.881 de pessoas estão aptas a votar no pleito marcado pela pandemia. Quase 70 mil a mais que em 2017, quando os catalães foram às urnas sob a intervenção do governo espanhol depois do falido processo de declaração de independência. A grande pregunta é se os independentistas manterão a maioria ou se os unionistas finalmente terão cadeiras suficientes para comandar a Generalitat da Catalunha.
A maioria das sondagens eleitorais apontam que o resultado será decidido por uma pequena margem de votos entre três candidatos: Laura Borràs, de Junts, o partido do ex-presidente Carles Puigdemont, exilado na Bélgica, que faz parte da lista eleitoral; Pere Aragonès, de Esquerda Republicana (ERC), atual vice-presidente da Generalitat, e Salvador Illa (PSC), ex-ministro da Saúde da Espanha, ás tirado da manga pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez (PSOE) para confrontar os independentistas.
As pesquisas indicam ainda que haverá uma maioria pró-independência que poderia ser de três partidos, Junts, ERC e CUP. Neste caso, há um duelo entre Pere Aragonès e Laura Borràs, que decidirá se a atual correlação de forças se mantém no governo da Catalunha. Atualmente a prioridade de ocupar a cadeira da presidência é de Junts, que obteve 34 cadeiras na eleição de 2017, tendo como sócio ERC, que obteve 32 assentos na eleição passada.
Contudo, a parceria de governo foi se deteriorando nos últimos três anos pelos ataques mútuos entre os membros dois partidos. Cisão alimentada pelo governo espanhol, que conseguiu o apoio de ERC no Parlamento espanhol. Com isso, não se trata apenas de decidir entre duas pessoas e duas organizações. Mas entre duas estratégias distintas: a de Junts, corporificada na figura de Puigdemont, em favor de manter a tensão com o estado por meio de uma postura de não colaboração com o executivo do PSOE e Unidas Podemos. Ou de ERC, personificado em Oriol Junqueras, preso e condenado pelo processo independentista de 2017, que está comprometido em relaxar e explorar as negociações com o PSOE como forma de se fortalecer interna e externamente.
Diante de tanta disputa, na última semana de campanha os partidos independentistas assinaram um documento se compromentendo a não fazer alianças com o PSC para assumir o governo. Isso pelo temor de ERC, que já é sócio do governo espanhol no Congresso em Madri, repetir a aliança na Catalunha e desbancar os independentistas rupturistas.
O PSC, por sua vez, aspira à vitória pela primeira vez desde o candidato Maragall e quebrar a maioria pró-independência. Nesse caso, abrir-se-ia um cenário incerto onde os votos do partido de extrema-direita Vox entrariam em jogo. O candidato da Ilha diz que não aceitaria os votos de Vox, mas não há garantias disso.
Se o PSC for a força dirigente, Pedro Sánchez terá obtido um valioso trunfo, tanto em termos de negociações com o futuro governo, como em termos da comunidade internacional. Sánchez poderá dizer que os socialistas são a força dirigente na Catalunha e tirarão proveito disso diante da União Europeia.
É aí que entra a abstenção. Uma das chaves que ajudarão a resolver todas essas incógnitas. As pesquisas preveem uma participação entre 55% e 60%, que eram os recordes usuais no pré-Processo da Catalunha. Essa baixa participação pode ter efeitos aparentemente contraditórios.
Por exemplo, pode encorajar a independência para superar os 50% da barreira do voto pela primeira vez, que é uma das condições que alguns setores colocam como primordial para fazer uma Declaração Unilateral de Independência (DUI). Em efeito contrário, a baixa participação pode favorecer uma certa super-representação da extrema direita da Vox, pois diminui o “preço” dos assentos no Parlamento.