“Não somos bárbaros”, destaca Artur Mas ao defender a independência da Catalunha
A frase acima foi destacada pelo presidente da Catalunha, Artur Mas, no último dia 23 de abril, em Barcelona, em entrevista a correspondentes estrangeiros, ao defender o processo independentista. Segundo ele, é preciso mostrar à opinião pública mundial que isso vem se dando de forma pacífica e que dentro do jogo democrático o pleito do povo catalão é legítimo. Na coletiva, estavam presentes jornalistas de diversos países, como Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Brasil e Estados Unidos, entre outros.
O plano de rota de Mas prevê convocar eleições ao parlamento da Catalunha no próximo dia 27 de setembro. A previsão é de que não serão umas eleições normais, uma vez que os partidos políticos independentistas se comprometem a transformá-las em plebiscitárias, incluindo nas propostas o compromisso de declarar a independência e proclamar a república catalã, caso sejam maioria.
Segundo Mas, o primeiro-ministro Mariano Rajoy não aceita dialogar sobre o processo independentista, iniciado em 2012 e que em 2015 chega ao seu ápice. E estaria usando todos os instrumentos de que dispõe para impedi-lo.
O líder catalão lamentou a atitude do governo central, que classificou de “baixa qualidade democrática”, de “miopia política total”, assim como pela “enorme virulência” com que está atacando o processo catalão. “Além do direito democrático que tem um povo de decidir seu futuro, no caso da Catalunha estamos falando sobre a maior economia da Espanha, do segundo território mais povoado, da economia mais aberta, exportadora e provavelmente inovadora. Assim, está agindo contra este território, contra o país e contra a economia”, queixou-se.
“Nos apresentam pelo mundo como bárbaros, quando somos gente que tem o diálogo no DNA, além de uma identidade cultural forte, vontade de pactar e histórico de paz”, destacou, numa referência direta ao governo espanhol. A coletiva foi dada no dia de Sant Jordi (São Jorge), patrono da Catalunha, quando é tradição presentear as mulheres com rosas e os homens com livros. “Somos isso que vocês estão vendo aqui hoje, gente que sai às ruas em massa presenteando seus seres queridos com cultura e sentimento”, explicou, ao dizer que é necessário se defender dos ataques.
Por conta disso, nos últimos meses, o presidente da Catalunha tem intensificado sua agenda de viagens a outros países e sua política de comunicação internacional, visando difundir os motivos que levam à opção pela independência. O mais recente artigo de Artur Mas sobre o assunto foi publicado na página de Opinião do jornal Correio Braziliense, de Brasília, em 22 de abril. Há duas semanas, ele esteve nos Estados Unidos, onde proferiu palestras e participou de várias rodas de entrevistas acerca do processo soberanista.
O presidente da Catalunha também enfatizou que é preciso entender que o processo soberanista não está prejudicando a ninguém. “Não queremos prejudicar a Espanha e numa Catalunha independente teremos que negociar com todo o mundo”, frisou, numa garantia de que as relações econômicas com outros países e com os investidores estrangeiros serão mantidas.
As garantias de manutenção dos acordos econômicos são um aceno aos formadores de opinião de outros países, visto que a Catalunha aumentou nos últimos anos os intercâmbios comerciais internacionais. De acordo com estudo do Conselho de Câmaras da Catalunha, houve nos últimos anos uma diversificação dos destinos das exportações catalãs fora da União Europeia, que aumentaram 9,4 pontos percentuais nos últimos quinze anos. Em 2000, representavam 26,3% do total e em 2014 chegaram a 35,7%. O Brasil está entre os países onde houve incremento das relações comerciais da Catalunha, junto da Rússia, Turquia e Argélia.