Compartilhe história de Hope e ajude ONG a mudar vida de crianças “bruxas” na Nigéria

Anja Ringgren Lovén, que resgatou menino Hope em 2016, e mantém orfanato no país, denuncia que crianças ainda são vítimas de torturas e mortes por conta de supertição e falta de leis que as protejam

A fotografia do menino Hope, resgatado em janeiro de 2016 por Anja Ringgren Lovén, na Nigéria, viralizou no mundo. Como a dinamarquesa ressalta em publicação recente no Facebook, a imagem foi compartilhada por milhões de pessoas e se mantém como uma das mais buscadas na internet. Contudo, a história do menino abandonado por ser considerado “bruxo”, que hoje vislumbra o futuro no orfanato mantido por Anja, não foi suficiente para mudar a realidade de crianças como ele no país.

Ainda hoje milhares de meninos e meninas ainda são estigmatizadas, torturadas e mortas no país por conta da supertição de que são “bruxas”, como relata na postagem. Segundo Anja, apesar da repercussão mundial do caso de Hope, até agora não foram implementadas leis para protegê-los.

Anja fala com propriedade. Diretora ONG DINNødhjælp, Fundação para a Ajuda, a Educação e o Desenvolvimento das Crianças Africanas, mais conhecida como terra da Esperança, ela e seu marido, o nigeriano David Emmanuel Umem, já resgataram muitas outras crianças vítimas da ignorância das famílias e do descaso das autoridades.

Na publicação na rede social, Anja pede que as pessoas continuem compartilhando a imagem de Hope. Não só a dele, mas as de outras crianças acolhidas pela ONG. “Continuem a partilhar, não apenas a história da Hope, mas todas as histórias horríveis das nossas crianças e apoiem a Terra da Esperança para tornar as nossas vozes mais fortes e poderosas”, ressalta. E se pudere, que façam doações à instituição.

De acordo com seu testemunho, há crianças que chegam a serem queimadas vivas. “Colocam pneus de carro em volta das crianças e tocam fogo nelas. Precisamos de parar isto. Os mortos não podem clamar por justiça”, enfatiza. Ela remarca ainda que “por toda a crueldade e dificuldades do nosso mundo, não somos meros prisioneiros do destino. Nossas ações importam, e podem dobrar a história na direção da justiça”.

RESGATE – Hope foi resgatado em 30 de janeiro de 2016, quanso perambulava na pequena aldeia de Akwa Ibom, no sul da Nigéria, a uma hora e meia da capital Uyo. Anja havia saído pela manhã do orfanato, na periferia da cidade, após o chamado de um informante que dera notícias de uma menina de 8 anos havia sido abandonada por ser considerada “bruxa”.

Naquele dia, ela estava acompanhada por uma equipe da produtora dinamarquesa Sand TV, formada pelo jornalista Jeppe Sig e a cinegrafista Anne Isbak, que gravavam um documentário para a rede de TV DR2 sobre o trabalho de Anja. Chamava atenção a tatuagem que leva gravada nos dedos da mão com a palavra hope, que significa esperança em inglês, mas também são as iniciais de seu lema: Helping One Person Everyday (Ajuda a uma pessoa a cada dia).

No local indicado, os homens que exercem a função de chefes do povoado receberam Anja e a equipe com hostilidade. Saíram dali decepcionados sem localizar a garota. O jornalista Jeppe Sig recorda de na volta receberam informações sobre um menino abandonado e partiram para a nova busca numa aldeia próxima.

Ali encontraram Hope, que sobrevivia na rua sozinho há 8 meses. “O mais horrível é que as pessoas conheciam o menino e o ignoravam, a pesar de ter apenas dois anos à época,  vivendo noite e dia na rua, se alimentando das sobras que conseguia encontrar”, conta Anja.

No relato que fez após o resgate, Anja contava que a princípio o garoto nem olhou para ela. Não falava nem emitia qualquer som. “Para chamar a atenção começou a dançar. Era seu último esforço. Depois disso caiu”, detalha Jeppe Sig. Foi então que Anja levantou o garoto, pegou água e lhe deu para beber, como se vê na foto feita pelo voluntário Martin Nilsson.

Depois pegou o menino nos braços e lhe envolveu numa manta. O olhar de Hope parecia de alguém que havia sofrido séculos de guerra. “Apesar de Anja já ter sido testemunha de muitos horrores na Nigéria, me disse: ‘Este resgate é um dos mais duros que realizei’”, recorda o jornalista. “Contudo, em situações como esta se mantém fria. Não pode demonstrar seus sentimentos diante daquela gente. Ficaria em perigo”, completa.

Resgate Hope
Resgate do menino Hope comoveu o mundo

Depois disso chegou o tenso momento de pedir autorização ao chefe da tribo para levar o menino a um hospital. “Lhe demos dinheiro para o whisky ou o que seja para que não frustrasse a missão”, explica Jeppe Sig.

Foi então que Anja decidiu batizá-lo: Hope, como está escrito na sua tatuagem. Internado num hospital público de Uyo, o pequeno foi submetido a a transfusões de sangue para reposição de glóbulos vermelhos. Ele tinha o intestino infestado de lombrigas.

Hope
Anja batizou menino com nome Hope, como tatuagem que tem na mão

“Ele estava nu, não falava e tinha força para manter-se em pé. Estava condenado a morrer na intempérie por ser considerado um menino bruxo”, conta Anja. Que no dia seguinte escreveu em seu Facebook: “Tenho testemunhado casos semelhantes nos últimos anos aqui na Nigéria. Estas imagens mostram porque luto”, completou.

A foto a que Anja se refere no início deste texto é a do momento em que dá um pouco de água a Hope, famélico, com ossos à mostra, quase sem se aguentar de pé”. Anja, que é ateia, saiu da Dinamarca há nove anos rumo à Nigéria, deixando para trás o trabalho em uma loja de roupas e vendendo tudo que tinha. Hoje dirige um orfanato na periferia capital Uyo junto com o marido.

Como se vê em foto atual, Hope exibe saúde e está crescendo com a dignidade e proteção que todas as crianças merecem. Mas como Anja ressalta, outras crianças do país ainda precisam de ajuda. Por isso, reforço o pedido de Anja, compartilhe a foto e esta história. E se puder, ajude a instituição.

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