“Agora ou nunca”: 2025 é limite para evitar catástrofe climática segundo a ONU
Período entre os anos de 2022 e 2025 é decisivo para limitar o aquecimento global que ameaça humanidade com uma grande crise de acordo com relatório do Grupo de Especialistas em Clima da ONU
Relatório sobre mitigação das mudanças climáticas divulgado nesta segunda-feira (04) pelo Grupo de Especialistas em Clima da ONU (IPCC) é taxativo. “Sem reduções imediatas e profundas nas emissões em todos os setores, será impossível limitar o aquecimento global a 1,5°C”. “É agora ou nunca”, crava o co-presidente do grupo de trabalho que elaborou o relatório, Jim Skea.
O período entre 2022-2025 é decisivo. O relatório Climate Change Mitigation considera que limitar o aquecimento global a 1,5°C exige que as emissões de CO2 “atingam seu máximo até 2025, no máximo”, sejam reduzidas em -43% até 2030; e que as emissões de metano sejam reduzidas em um terço. Mesmo fazendo isso “é quase inevitável que ultrapassemos temporariamente esse limite de temperatura, mas podemos voltar abaixo disso até o final do século”, explicam.
Mesmo para limitar o aquecimento a 2°C, acima do limite de segurança de 1,5°C, as emissões de CO2 também devem “atingir um máximo antes de 2025”, embora neste caso a redução das emissões até 2030 possa ser de -25%.
CONSENSO – O relatório Climate Change Mitigation foi elaborado por 278 cientistas com base em 18 mil relatórios publicados nos últimos sete anos. Entretanto, o documento-chave é o “Sumário para Líderes Políticos”, referência para os governos nas negociações que ocorrerão nos próximos anos, aprovado com contribuições dos governos da ONU. Além da aprovação dos cientistas, o relatório recebeu o val de representantes dos 195 governos membros do IPCC.
Por isso, o acordo deste “Resumo para formuladores de políticas” gerou acusações contra alguns governos de tentar diluir as descobertas dos cientistas. A negociação final do relatório foi acordada em uma reunião ininterrupta de 40 horas.
O IPCC atualiza a análise global sobre o aquecimento a cada 6-7 anos, sabendo que existe um grande consenso científico. Em 2021-2022 analisa os relatórios de 2013-2014. O relatório de mitigação divulgado hoje é um terço da atualização atual. No final de fevereiro, a segunda parte foi atualizada, sobre os impactos climáticos previstos para os anos imediatos, quando já se passaram quatro dias desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia.
Um relatório duro que adverte que as atividades humanas estão causando destruição generalizada da natureza; que o calor, a seca, os incêndios e as inundações sejam mais simultâneos e extremos; que as perdas de colheitas aumentarão; que alguns ecossistemas importantes, como a Amazônia, não estão mais absorvendo CO2 e começam a emiti-lo; e que se ultrapassarmos 1,5ºC de aquecimento os impactos se acelerarão e poderão ter caído em dominós de ecossistemas e sociedades.
A primeira parte da atualização atual, sobre a física do aquecimento, foi publicada em agosto, onde está documentado que o clima extremo aumentará, pelo menos por duas décadas, mesmo que reduzamos as emissões rapidamente, porque o sistema é de 20 a 30 anos atrasado; que alguns efeitos são irreversíveis, especialmente o degelo generalizado; que a elevação do nível do mar no final do século poderia ser de 2 metros; e que vamos ultrapassar o limite de segurança 1,5 de aquecimento por volta de 2030.
CRISE – A ciência documenta que a crise climática já está em andamento, que é muito grande e existencial, que levará a uma crise humanitária global de escala sem precedentes, que a janela de tempo disponível está se fechando rapidamente e que apenas uma crise global, contundente e concertada ação pode enfrentá-lo. O alerta está sendo ignorado em meio à guerra russa na Ucrânia e repercussões energéticas.
Os relatórios do IPCC que estão sendo atualizados agora são a última avaliação abrangente até o final desta década, em que ainda há tempo de evitar os piores impactos da crise climática. Ele marcará as discussões políticas e os acordos dos estados, a partir da Conferência do Clima da ONU no Egito, marcado para novembro deste ano.
RESULTADOS – O crescimento das emissões desacelerou em 2010-2019; os custos de energia solar e eólica foram reduzidos em até 85%; e os principais países estão fazendo leis para a transição energética sustentável. O IPCC enfatiza que, se essas tendências forem ampliadas e feitas de forma equitativa para todos os países, pode haver profundas reduções nas emissões e estímulo à inovação.
Para seguir neste caminho, o O IPCC afirma que é necessário:
Política: sinais claros dos governos, alinhando o setor público para a transição; há capital e liquidez global suficientes para investimentos.
Energia: redução substancial no consumo de combustíveis fósseis; eletrificação generalizada; melhorar a eficiência energética; combustíveis alternativos, como o hidrogênio.
Cidades compactas e transitáveis: eletrificação do transporte com energias de baixa emissão; reabilitação energética de edifícios
Indústria: uso eficiente de materiais, reutilização, reciclagem e minimização de resíduos; novos processos de produção; eletricidade de baixa emissão; hidrogênio; captura e armazenamento de carbono.
Agricultura e silvicultura: com gestão sustentável e ecológica.
Desenvolvimento: A ação climática deve ser equitativa para tornar mais fácil para os países subdesenvolvidos mitigar e se adaptar aos impactos climáticos