EUA divididos no embate Hillary x Trump

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Norte-americanos decidem hoje entre Trump e Hillary

Qualquer que seja o resultado das eleições dos Estados Unidos nesta terça-feira (08), o país estará inevitavelmente dividido. Este é o indicativo das últimas sondagens eleitorais, que apontam uma disputa acirrada entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump. As pesquisas dizem que a percepção dos eleitores é de que esta é a mais loga campanha presidencial dos últimos anos. Para isso contribuiu a animosidade em relação aos candidatos, mas também um tom de campanha particularmente agressivo, carregado de polêmicas.
“Não há final feliz” à espreita, publicou a Economist na edição de outubro. “Não há um consenso entre os eleitores americanos sobre o que caracteriza um líder. Quem quer que ganhe a eleição, metade do país vai pensar que se trata de uma desgraça desde o primeiro dia”, enfatizou. Mas o que levou a esta sensação?
Os Estados Unidos têm na sua história algumas fases de crise e divisão profundas. A Guerra Civil no século XIX mostrou divisões que, historicamente, ainda hoje se sentem. A bandeira dos confederados, por exemplo, ainda é usada por muitos a sul como símbolo de herança cultural. A mesma que muitos outros associam, não sem razão, à violência da escravatura.
À miséria da Grande Depressão de 1929 e que se fez sentir nos anos 30, seguiu-se a vitória na II Guerra Mundial. Mas o país unido do pós-guerra ainda excluía milhões de pessoas. Os anos 60 foram pródigos em protestos, da exigência de direitos humanos para a população negra aos contra a Guerra do Vietnã. O conflito não era só de brancos que não queriam direitos iguais para os negros. Era também um conflito geracional.
A segregação acabou há décadas mas socialmente a pobreza é maior entre as minorias. E os últimos anos têm sido marcados particularmente por protestos contra os casos de violência policial contra negros.
É importante falar do peso destes eleitores nesta campanha. Hillary poderá vir a ser a primeira mulher a tornar-se presidente e tem até vantagem sobre Trump entre as mulheres. É entre as minorias, em particular a afro-americana e a hispânica, que a sua vantagem parece ser maior. Já Trump lidera entre os homens brancos, empregados e sem formação superior (isto apesar de, desde os tempos de Ronald Reagan até hoje, os republicanos terem vindo a ganhar maior apoio também entre brancos com formação superior, como nota a The Atlantic). Mas se deve também ter em conta o passado e o presente de cada um dos candidatos.
Candidatos da discordia – Hillary tem a experiência de estar há mais de 30 anos ligada ao serviço público. O que nem sempre funciona a seu favor pelo fato de parte do público olhar para os políticos de Washington com desconfiança. Um sentimento que não é exclusivo dos Estados Unidos e que na Europa tem permitido surpresas eleitorais, até há poucos anos consideradas impensáveis.
Além disto, a vitória de Hillary nas primárias não foi fácil. Bernie Sanders perdeu por um adiferença mínima e houve protestos nas bases democratas: os emails divulgados e o passado da Fundação Clinton não ajudaram – e são frequentemente invocados pelos apoiantes de Trump. Hillary e o marido e ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, faturaram milhões ao longo de anos com palestras ligadas a grandes grupos econômicos, uma relação a que muitos ‘torcem o nariz’.
Hillary negociou o apoio de Bernie Sanders, de quem foi buscar várias ideias que viriam a integrar o programa que está sendo submetido aos eleitores. Ainda assim, uma parte dos apoiantes de Sanders afirmou publicamente que não votará Clinton, preferindo apostar no ecologista Jill Stein.
Já Trump fez um caminho curioso: pulverizou todos os candidatos que contavam com maior apoio do partido republicano. Um deles era Jeb Bush, irmão e filho de dois antigos presidentes.
A cada novo debate entre republicanos, muitos de palco cheio, com mais de uma dezena de candidatos, o ‘filme’ repetia-se: os holofotes estavam todos em Trump.
A sua postura polémica, contrastando com a imagem trabalhada da política norte-americana, surpreendeu o próprio partido. Hoje em dia há muitos republicanos, incluindo senadores e congressistas, que não vão votar Trump. O partido, no entanto, irá manter o apoio até ao fim, até porque há lugares no Senado que não quer perder.
As tiradas xenófobas (em particular contra os mexicanos), o seu passado de comentários misóginos (o já célebre “grab them by the pussy” marcou a campanha), os seus ‘fatos’ tantas vezes contrariados pela imprensa não demoveram adeptos.
Trump é uma espécie de ‘rei’ do politicamente incorreto, num país em que uma parte da população sente ter sido esquecida por Washington. Eleitores que não se identificam minimamente com Hillary, sejam quais forem os argumentos que ela utilize para captar seus votos.
Se Trump ganhar, o choque irá imperar entre os eleitores de Clinton. Se Clinton ganhar, esta longa falange de gente já zangada não ficará satisfeita.
Na madrugada desta quarta-feira se saberá o resultado da campanha que se destacou mais pelo tom do que pelo conteúdo das propostas. Assemelhada a um “reality show”, que nas palavras do jornalista Matt Taibbi, da Rolling Stone, “desencorajou sutileza, reflexão e reconciliação, e encorajou beligerância, ação e conflito”. O mais preocupante é que estas eleições afetam não apenas os norte-americanos, mas os demais cidadãos do mundo.

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