Governo britânico ignorou alerta de incêndio em prédios como a Torre Grenfell
Reportagem da BBC revela que membros do governo britânico ignoraram avisos que alertavam para risco iminente de incêndios em prédios residenciais como a Torre Grenfell. A denúncia foi publicada na noite de ontem (19), uma semana após o incêndio na torre habitacional de 24 andares, situada no bairro de Kensington Norte, em Londres, que matou ao menos 79 pessoas.
Os alertas feitos por especialistas foram compilados em cartas enviadas ao Departamento para as Comunidades e a Governação Local, em 2009, após o incêndio na Lakanal House, no sul de Londres, que deixou seis mortos e 30 feridos. Uma delas estava assinada por uma comissão parlamentar interpartidária e avisava que o governo britânico não podia “dar-se ao luxo de esperar por uma nova tragedia”.
A matéria da BBC informa que os avisos “foram ignorados” pelos integrantes do departamento e que, apesar de o governo ter prometido uma revisão dos regulamentos em 2013, a reforma nunca chegou a materializar-se. Procurado pela BBC, o departamento governamental que recebeu as cartas informou que já estava trabalhando na melhoraria das regras de segurança antes da tragédia na Torre Grenfell.
“Estamos há quatro anos insistindo: ‘Ouçam, nós temos as provas e já lhes apresentamos, há de se tomar alguma providência quanto a isto’”, revelou ao Panorama Ronnie King, um dos membros da comissão.
Após os primeiros avisos terem sido ignorados e de a revisão prometida para 2013 nunca ter saído, o grupo parlamentar escreveu outra vez em março de 2014. Um dos trechos dizia: “Quando já existem provas creíveis que justificam uma atualização que vai salvar vidas, será preciso esperar mais três anos para além dos dois que já passaram […] para se fazer alguma coisa? Dado que existem outras quatro mil torres de apartamentos no Reino Unido sem mecanismos automáticos de proteção como aspersores de água, poderemos realmente ficar à espera que outra tragédia ocorra antes de corrigirmos esta fraqueza?”
Após receberem mais cartas, o deputado liberal democrata Steven Williams, que à época trabalhava no referido departamento, respondeu: “Não vi nem ouvi nada que sugira que ter estas alterações específicas em consideração é urgente e não estou disposto a perturbar o trabalho deste departamento para que estes assuntos sejam debatidos.”
O grupo de especialistas respondeu com incredulidade. “Não conseguimos compreender como é possível concluir que provas independentes e críveis, que demonstram sérias implicações de segurança, NÃO são consideradas urgentes. Desejamos sublinhar que, caso uma tragédia de incêndio com perda de vidas ocorra entre agora e 2017, por exemplo num lar de idosos ou num edifício de apartamentos, em que os tópicos aqui elencados tenham peso no resultado, então o grupo será forçado a avisar (denunciar) outros disto.”
O leitor também pode ficar atônito com tanta indiferença por parte das autoridades londrinas com respeito ao tema. O que não é novo para os quem vive em Kensington Norte. Segundo matérias divulgadas pela imprensa espanhola, os moradores desta áreacomumente são relegados ao esquecimento pelo governo.
Na região há grandes edifícios para imigrantes, como a torre Grenfell ou o complexo Lancaster Estate, além de sinistros corredores de moradias em baixo da estrada A40, e as favelas londrinas. Realidade bem diferente de quem vive do outro lado, em Kensington Sul, com a renda per capita mais alta do país, povoada por mansões como a do jogador David Beckham e de xeiques árabes e milionários de toda a parte do mundo.