Artista queniana encanta ao retratar povo Maasai no espaço
Na série MaaSci, a artista gráfica queniana Jacque Njeri simula viagem do povo Maasai ao espaço. Resultado é deslumbrante
Um dos trabalhos da artista gráfica queniana Jacque Njeri tem chamado a atenção, especialmente da imprensa europeia. A série MaaSci, ancorada no movimento Afrofuturismo, ganhou espaço em sites de noticias no Reino Unido e na Espanha. Nas imagens, publicadas no Instagram da artista, ela retrata o povo nômade Maasai – que vive no sul do Quênia e norte da Tanzânia -, em ambientes galácticos. O resultado é absolutamente deslumbrante.
Entre as imagens estão um menino que carrega uma lança, uma vara e um cordeiro preto entrando num horizonte celestial nublado. Uma mulher adornada com jóias Maasai que identifica-se como um cyborg. E um homem vestido com roupas tradicional flutua em uma paisagem marinha subaquática surreal.
O Afrofuturismo é uma espécie de estética literária e cultural que combina elementos de ficção científica, ficção histórica, fantasia e realismo mágico com cosmologias não-ocidentais. Sua finalidade é criticar os problemas atuais dos povos negros e também rever, questionar e reexaminar eventos passados.
“O povo Maasai é sinônimo do Quênia e, por direito próprio, da África”, explica a artista. Por conta disso, ela defende que para os africanos e a sua rica identidade cultural sejam representados de maneiras a que estejam satisfeitos, “devemos nós mesmos escrever essas narrativas”. O projeto MaaSci, de acordo com a artista, se propõe a reimaginar o futuro dos Maasai no espaço.
Njeri explica que nas imagens recriou subconscientemente a cidade de Tatooine de Star Wars, enquanto simultaneamente incorporava elementos de sua própria cultura. “Na ficção científica há uma predominância branca e qualquer tentativa de inclusão do negro é sempre numa perspectiva unidimensional da escuridão. Queria quebrar essa perspectiva”.
As imagens de Njeri se destacam em um momento em que muitos fotógrafos e cineastas africanos estão experimentando com ficção científica e realidade virtual para contar ou reimaginar narrativas históricas. No passado, o fotógrafo queniano Osborne Macharia criou The Kipipiri Four, um projeto de ficção em tributo ao papel que as mulheres na rebelião de Mau Mau na década de 1950, que finalizou o reinado da Grã-Bretanha no Quênia.
PROJETOS – Njeri, de 26 anos, que estudou arte e design na Universidade de Nairobi, explica que o seu trabalho atual lhe permite dedicar-se a projetos como esse, no qual carrega toda sua paixão.
“Estou feliz de ter criado algo pelo qua leu realmente me apaixonei”.
Contudo, lamenta que no Quênia a arte ainda esteja restrita a um círculo reduzido da sociedade. “Perseguir arte não é encorajado, pois é visto como um hobby e não uma carreira que pode colocar comida na mesa”, diz.
Entre os últimos trabalhos de Njeri está a série “Stamp”, com personagens negros em selos, adaptandos a outras peças para criar composições. “Quatro peças se destacaram bastante: Nzumari, Blossom, Freedom e Breakthrough”, relata.
A joven artista está trabalhando atualmente no projeto intitulado “The Mau Mau Dream”. “É uma imaginação do que teria sido o estado de coisas se não tivéssemos sido colonizados, com os combatentes da liberdade e os heróis quenianos como protagonistas dos seus destinos”, finaliza.
Que sua arte inspire e motive!