Catalunha se mobiliza contra repressão da Espanha ao referendo independentista
750 prefeitos reafirmam compromisso de facilitar a votação em 1º de outubro em ato multitudinário na capital catalã, mesmo sob ameaças do Ministério Público espanhol
A manifestação popular vista hoje em Barcelona demonstra que está cada vez mais difícil para o primeiro ministro da Espanha, Mariano Rajoy, manter a promessa de impedir a realização do referendo sobre a independência da Catalunha, marcado para 1º de outubro.
A Plaça de Sant Jaume, onde estão as sedes da Generalitat e da prefeitura da capital, foi ocupada por uma multidão que transbordava pelas ruas contiguas. Que demonstrou estar incondicionalmente ao lado dos 712 prefeitos que foram notificados oficialmente pelo Ministério Público espanhol por terem se comprometido a ceder colégios eletorais para a votação.
Os chefes dos municipios, 750 no total (uma vez que a adesão aumentou) foram recebidos pelo presidente Carles Puigdemont e pela prefeita de Barcelona Ada Colau, no ato conclamado pela Associação Municipal pela Independência (AMI). E ovacionados pela multidão que ocupou o local bem antes do meio-dia, horário em que a cerimônia teve início.
A todo momento ecoavam aplausos e gritos de “Independência”, “Votaremos”, “Não estão sós” e “Não temos medo”. Várias músicas de protesto foram entoadas, além do canto dos Segadors, o hino nacional da Catalunha.
A solenidade teve início no prédio da prefeitura, onde a chefe do executivo da capital, Ada Colau, criticou as operações da Guarda Civil em gráficas para apreender material de campanha. Ontem, a polícia espanhola também entrou em redações de jornais locais, onde entregou notificações de advertencia da justiça, que proibiu a veiculação de propaganda sobre a votação. “Isso é uma vergonha”, qualificou.
Da prefeitura a comitiva seguiu para o Palácio da Generalitat, passando entre em meio à multidão. A cerimônia acabou na Galeria Gótica do Palácio da Generalitat, com uma imagem de grande carga simbólica: os prefeitos exibindo as varas que representam a responsabilidade dos chefes dos executivos municipais, ao lado de Puigdemont e da presidente do parlamento catalão, Carme Forcadell.
Puigdemont assegurou que o ato mostra “dignidade e firmeza” e agradeceu aos prefeitos por não terem se atemorizado com as primeiras notificações do Ministério Público. “Que não subestimem a força de um povo que tomou a decisão de decidir e resistir diante de um comportamento antidemocrático”, avisou, dirigindo-se ao governo espanhol.
“Eles têm o Boletim Oficial do Estado e José Manuel Maza (procurador geral do Estado), mas não têm a vocês”, referindo-se às massas, destacou Puigdemont. O presidente catalão garantiu que no próximo 1º de outubro se votará no referendo.
“Queremos um país livre, onde as pessoas possam se expressar com normalidade”, disse, denunciando as ações da Guarda Civil nas gráficas e nos meios de comunicação.
Puigdemont, que era prefeito de Girona, fez uma defesa dos prefeitos, lembrando da importância do papel deles na resolução dos problemas diários dos cidadãos. O presidente criticou a política espanhola, falando dos despejos provocados pela crise no sistema habitacional e da pobreza energética, acusando o estado de apertar ao máximo a atuação dos governos locais, cortando suas competências.