Protestos nas ruas da Espanha contra prisão de membros do governo da Catalunha
Manifestantes defenderam direito de autodeterminação da Catalunha após prisão de 14 membros do governo pela Guarda Civil. Ação amparada pela justiça visa a impedir referendo sobre independência, marcado para 1º de outubro
Populares saíram às ruas em Barcelona e em várias cidades espanholas para defender o direito de autodeterminação dos catalães. Os protestos, que se estenderam até às 23h00 (18h00 no horário de Brasília) e culminaram com um grande panelaço, foram uma reação à prisão de 14 membros do governo da Catalunha na manhã desta quarta-feira.
A macro-operação policial, iniciada nas primeiras horas da manhã pela Guarda Civil em 41 edifícios que sediam secretarias e órgãos do governo catalão, visa a impedir o referendo sobre a independência. E encontrar provas contra a iminente celebração da votação marcada para 1º de outubro, que foi considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional.
Entre os detidos está o secretário geral de Economia e Fazenda, Josep Maria Jové, braço direito do vice-presidente Oriol Junqueras, que também comanda o Departamento de Economia, um dos primeiros prédios tomados pela polícia espanhola. A macro-operação fez buscas nas secretarias de Assuntos Exteriores, Trabalho e Assuntos Sociais e de Governo, bem como no Centro de Telecomunicações e Tecnologia da Informação e na Fundação PuntCAT.
Em um armazem de uma empresa de publicidade a polícia apreendeu 10 milhões de cédulas de votação. No local também foram encontrados cartazes com a legenda “Zona Eleitoral”, atas de listas numeradas de votantes com a inscrição “Referendo de Autodeterminação da Catalunha 2017”, atas de Constituição da mesa e formulários.
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, disse que a ação da Espanha constitui um “golpe de estado” pela retirada de fato da autonomia da Catalunha. Ao se solidarizar com os detidos, disse que não vai dar nenhum passo atrás na realização do referendo. “De hoje ao dia 1º de outubro, é preciso uma atitude de serenidade e firmeza, denúncia de abusos e ilegalidades. No dia do referendo levaremos uma cédula de votação, a qual utilizaremos. E isso contrastará com o totalitarismo do estado espanhol”, declarou.
A reação popular foi imediata. Nas primeiras horas da manhã, após o início da operação, milhares de pessoas foram para a frente do Departamento de Economia, no centro da cidade, onde mais de 40 mil continuavam em vigilia às 23h00. Em muitas cidades catalãs os protestos se multiplicaram com gritos de “independência” e “votaremos”. Na Praça do Sol, em Madri, também houve ato em apoio do direito de decidir dos catalães, assim como em várias outras cidades espanholas.
A operação policial foi ordenada pelo titular do Juizado de Instrução 13 de Barcelona, Juan Antonio Ramírez Sunyer. Ele dirige há meses uma causa que está sob segredo de Justiça relacionada com a organização do rerefendo. A investigação foi aberta após denúncia apresentada pelo advogado Miguel Durán e do partido político de extrema direita Vox.
Nos últimos dias, o primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy vem comandando, com apoio da Justiça e do Ministério Público, uma ofensiva para barrar o referendo catalão. Mais de 5 mil homens da Guarda Civil foram enviados a Barcelona, onde estão entrando em gráficas e redações de jornais para impedir a produção de material de votação e impedir a veiculação de propaganda. Também houve interceptação de correspondências nos Correios, com apreensão de revistas de entidades soberanistas.
No final da noite, Rajoy sugeriu que Puigdemont desista do referendo. “Renuncie de uma vez a esta escalada de radicalidade e de desobediência. Estamos a tempo de evitar um mal maior”, ameaçou.