Deputada ex-refugiada repreende primeiro ministro espanhol por apoiar deportação de sírios
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), enfrentou uma saraivada de críticas da oposição na tribuna do Congresso de Deputados, em Madri, ao defender o acordo da União Europeia (UE) e Turquia para deportação de refugiados. A mais contundente partiu da ex-refugiada e deputada Ana Surra, vice-presidente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC). “Senhor Rajoy, você não sabe o que está falando”, disparou.
Rajoy ficou atônito diante das palavras da uruguaia, que na década de 70 teve de fugir da ditadura de seu país. Morando na Catalunha há 11 anos, a independentista acuou o primeiro-ministro. “Ser refugiado não é uma doença. somos pessoas”, bradou, mostrando com o braço levantado a carteira de refugiada que guarda até hoje. O vídeo com a intervenção de Ana Surra (link aqui) teve grande repercussão na web.
A deputada criticou o acordo entre a UE e a Turquia. “Quem neste Parlamento considera Erdogan (primeiro ministro turco) um democrata e a Turquia um país seguro?”, questionou.
A deputada perguntou a Rajoy se ele não recordava daqueles que tiveram que fugir da Espanha depois da Guerra Civil, na década de 30. “Estou chocada com a sua falta de memória. Sei que os avós de alguns dos aqui presentes faziam parte do lado vencedor na Guerra Civil Espanhola, mas isso não deve ser uma razão para que os direitos humanos não sejam respeitados agora”, justificou, numa referência aos sírios.
Surra enfatizou que a condição de refugiado é uma “situação administrativa”, fazendo um paralelo entre Espanha, Uruguai e Síria. “Os espanhóis de 36, os uruguaios de 73 e os sírios de 2015 não sabiam que seriam refugiados algum dia. Não esqueçamos disso. Assim como eles, todos nós podemos ser refugiados algum dia”, alertou.
A parlamentar pediu “mais humanidade” ao governo espanhol e criticou a deportação dos sírios ao território turco porque “legaliza a indignidade”. Ela reclamou da passividade do governo de Rajoy, a quem acusou de não aplicar o princípio da humanidade e respeito aos direitos fundamentais, numa referência às deportações imediatas”de migrantes executadas pelo governo espanhol na fronteira de Ceuta e Melilla.
Em resposta à deputada, Rajoy pediu que ela fosse “mais generosa” com o governo e não fizesse uma “desqualificação global e absoluta” de sua gestão. “Em qualquer caso, me alegro de que tenha encontrado um lugar seguro e em paz na Espanha para viver”, espetou.