Resistência porta catalães ao referendo neste domingo
Espanha vem tentando de tudo para impedir votação, mas ação repressiva só tem dado mais ânimo aos eleitores. Comunidade educativa decidiu acampar nos 2,3 mil colégios eleitorais para impedir ação da polícia que tem ordem de fechá-los
A campanha pelo referendo sobre a independência da Catalunha terminou nesta sexta-feira (29) com um chamado à população a defender os 2,3 mil colégios eleitorais habilitados para a votação. Desde à tarde, profesores, pais e alunos estão mobilizados para garantir que não seja cumprida a ordem do governo da espanha de lacrar as escolas. Muitos estão acampados e dormirão nos locais de votação.
“Ganhamos o direito a ser escutados e a sermos reconhecidos na Europa e no mundo”, disse o presidente Carles Puigdemont, numa referência à resistência da população à ofensiva repressiva da Espanha nas últimas semanas. O líder catalão se referia às manifestações populares em apoio ao referendo por parte dos mais variados coletivos da sociedade catalã. Que diariamente foram às ruas as denunciar o cerco policial e judicial comandado primeiro ministro Mariano Rajoy à Catalunha. “Sairemos do processo e seguiremos para o progresso”, ressaltou, sendo ovacionado por uma multidão estimada em 80 mil pessoas.
Estima-se que 60% dos 5,3 milhões de eleitores catalães estão dispostos a votar no no domingo. E que metade dos que são contra a independência pretendem boicotar a consulta, o que aumenta a proporção de votos pelo sim, que poderá chegar a 70%.
Rajoy vem fazendo de tudo para impedir a consulta. Conta com a ajuda do Ministério Público, a Justiça, a Guarda Civil e a Polícia Nacional. Que juntos submeteram a Catalunha à uma ação repressiva sem precedentes.
Mas tudo que fez até agora – detenções políticas, fechamento de páginas webs, violação de correspondências, só para citar algumas – parece que só tem animado os soberanistas a votar.
Uma das estratégias de Rajoy foi criminalizar políticos independentistas. Em 20 de setembro, 14 membros do governo catalão foram detidos sob acusação de estarem organizando o referendo. A ação causou indignação, que se traduziu em manifestações populares massivas, que não cessaram mesmo com a liberação dos detidos três dias depois.
Na última semana, a cada dia houve atos de suporte ao referendo no território. Bombeiros, estudantes, agricultores, empresarios, diretores de escolas, músicos, entre outros, foram alguns dos protagonistas de protestos massivos.
Apesar da União Europeia manter silêncio sobre o tema, a ofensiva espanhola levantou críticas por parte de políticos em diversos países europeus. Bem como de jornalistas internacionais, que já comparam Rajoy ao ditador turco Recep Tayyip Erdogan.
Comenta-se nos bastidores que a Espanha poderá, como última cartada, tentar insuflar violência neste domingo para justificar uma intervenção armada com os efetivos que tem a postos. O que só daría legitimidade à Catalunha a proclamar a independencia, como previsto na Lei de Transitoriedade do parlamento regional.
No tabuleiro, há muito em jogo. A Espanha corre o risco de perder um dos territórios mais ricos do país. As consequências políticas e econômicas são avassaladoras. A possibilidade de ver o território fraturar-se ainda mais é real. Regiões como o País Basco e a Galícia podem animar-se a seguir o mesmo caminho dos catalães. A Catalunha conta com uma situação econômica privilegiada, sendo comparada hoje a países como a Dinamarca e Bélgica. O que lhe facilitaria o rápido passo de volta à União Europeia.
O ator mais importante neste processo será o cidadão, que dirá neste domingo de que lado está a razão.