Resistência popular poderá ser chave para bloquear ataque da Espanha à Catalunha
Na sexta-feira, 27 de outubro, governo espanhol deverá ter aval do Senado para tomar o poder na Catalunha. No mesmo dia, parlamento local poderá declarar a independência. Mobilização popular poderá ser chave para conter ataque espanhol
“Pelo bem da Espanha, é conveniente bombardear Barcelona ao menos uma vez a cada 50 anos”. A frase do general Baldomero Espartero, que em 1842 ordenou um bombardeio indiscriminado contra a capital catalã para conter as revoltas contra o estado espanhol, tem sido lembrada muito nestes dias na Catalunha. Onde a indignação popular contra as ações repressivas empreendidas pelo primeiro ministro Mariano Rajoy contra os independentistas só tem crescido.
Não é a primeira vez nos últimos 300 anos que os catalães tentam separar-se da Espanha e se defontram com governantes dispostos a tudo para manter a integridade do território. No caso atual, felizmente, até agora não houve vítimas mortais como em outros momentos da história.
Mas a crescente escalada de tensão, amplificada pela intenção de Madri em tomar o controle do autogoverno catalão – o que será decidido nesta sexta no Senado com a votação do artigo 155 da constituição – pode descambar para um confilto direto com a população.
Hoje, o parlamento catalão começa a analisar de que forma irá responder a Rajoy. Estima-se que a sessão só seja finalizada amanhã, quando o presidente Carles Puigdemont poderá finalmente declarar a independência, com o argumento de “legítima defesa” contra o ataque de Madri a Barcelona.
Já há muita mobilização popular engatilhada. Protestos de estudantes universitários, que decretaram três dias de greve, estão marcados para esta quinta-feira em Barcelona. Ontem, funcionários da TV3, Catalunya Ràdio e da agência de notícias ACN, meios de comunicação pública sob ameaça de intervenção, divulgaram manifesto afirmando que só obedecerão aos líderes catalães eleitos legitimamente.
Bombeiros, professores, empresários, agricultores, entre outros coletivos, anunciaram que estão dispostos a desobedecer à Madri em caso de intervenção. Mais de 800 prefeitos também manifestaram a mesma posição.
Apesar da prisão de seus líderes – Jordi Sànchez e Jordi Cuixart -, as entidades soberanistas não estão paradas. Integradas por membros da sociedade civil, desde a terça-feira estão realizando reuniões em toda Catalunha para organizar a resistência popular.
Comenta-se que há a possibilidade de montar-se a partir desta sexta um vigília permamente em pontos chave de Barcelona, como na Praça Sant Jaume, onde está localizado o Palácio da Generalitat, sede do governo catalão.
Os independentistas já deram mostra de forte resistência em duas ocasiões recentes. Em 20 de setembro, ocasião em membros do governo catalão foram presos e houve multitudinários protestos por três dias. E em 1 de outubro, quando mesmo sob o ataque da Guarda Civil e Polícia Nacional, mais de dois milhões de pessoas votaram no referendo. Naquele dia, mais de mil pessoas ficaram feridas, entre elas idosos e crianças.
Madri mantém em Barcelona, alojados em três navios, os quase 15 mil policiais que atuaram na Catalunha durante o referendo. Que esperam apenas uma ordem do estado espanhol para começarem a agir.