Dois minutos para meia-noite

Por Cesar Vanucci *

“O efeito Trump tem afetado o relógio.”
(Revelação constante do último
“Bulletin of the Atomic Cientists”.)

Ele é tão famoso quanto o “Big Ben”. Mas, ao contrário do marcador de tempo londrino, venerável instituição britânica com sua pulsação festiva e solene de celebração da vida, é um lúgubre símbolo de um momento conturbado da história. Momento marcado por desatinos exacerbados que alvejam desapiedadamente a dignidade humana.

Este relógio foi concebido há setenta anos por um grupo de cientistas de vanguarda. Seus instituidores procuraram estabelecer, com a iniciativa, uma analogia que inserisse a civilização contemporânea dentro de um espaço de tempo determinado, onde o dispositivo pudesse, através de medições periodicamente atualizadas, avaliar os lances negativos e positivos da conduta humana em condições de influenciar o destino deste nosso planeta azul. Avanços de segundos ou de minutos dos ponteiros em direção da meia-noite representam, dentro de tal enfoque, prenúncios de tragédias. Ocorrências avassaladoras com potencial suficiente para até mesmo reduzir a escombros as conquistas civilizatórias. Recuos na marcha dos ponteiros significam, de outra parte, evidência de redução no nível das tensões.

Desde que posto a funcionar em 1947, o assim também denominado “Relógio do Apocalipse”, já foi acionado 23 vezes. Tudo em consequência da elevação da temperatura quanto a inquietações da comunidade internacional provocadas por conflitos e outras questões sociais, ambientais etc. A última dessas “mexidas” aconteceu ainda agora, no dia 26 de janeiro passado. O novo posicionamento dos ponteiros, estipulado pelo comitê de renomados cientistas de todas as partes do mundo vinculados a esse esquema de avaliação periódica das confusões armadas pelo “bicho homem”, revela alarmantemente que estão faltando apenas dois minutos para as fatídicas badaladas da meia-noite. Cabe frisar que, anteriormente, só por uma única vez, no curso do processo (isso por volta de 1953), a ameaça de catástrofe definitiva desenhou-se tão iminente quanto agora. Na ocasião pretérita, em que os ponteiros do relógio acusaram, pela vez primeira, dois minutos para meia-noite, os Estados Unidos e a antiga União Soviética andaram testando sistemas termonucleares tão devastadores que, diante deles, as bombas arremessadas sobre Hiroshima e Nagazaki chegaram a ser apontadas, no dicionário dos “senhores da guerra”, como artefatos de efeitos até brandos, minha Nossa Senhora da Abadia da Água Suja!!!

O alerta sobre os riscos da hora presente consta do último “Bulletin of the Atomic Cientists” da Universidade de Chicago. No entendimento dos encarregados das movimentações do “Relógio do Juízo Final”, vem sendo preponderante para a assustadora marcha dos ponteiros o denominado “efeito Trump”. Desde a mudança de governo ocorrida no mais poderoso país do mundo, responsável sabidamente por decisões que, na paz e na guerra, preconizam (pra dizer o mínimo) diretrizes para a humanidade inteira, o “relógio” vem sendo impactadamente afetado. Há um ano, em 26 de janeiro de 2017, o “avanço” foi de três para dois minutos e trinta segundos, sendo essa a primeira mudança com emprego de fração desde o longínquo ano de 47. Em 25 de janeiro de 2018 anunciou-se outro “avanço” de mais trinta segundos.

Estão faltando dois minutos para meia-noite…

* O jornalista (cantonius1@yahoo.com.br) é colaborador do Blog Mundo Afora. Artigo datado de 08/02/2018

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