De volta a Bruxelas, Puigdemont insta Pedro Sánchez a dar a “receita” para situação na Catalunha
Ex-presidente catalão desembarcou hoje na capital belga, onde concedeu entrevista coletiva ao lado do atual presidente da Generalitat, Quim Torra. Ambos se mostraram abertos ao diálogo com o primeiro-ministro Pedro Sánchez, de quem esperam “gestos” para resolver conflito com a Espanha
O ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, desembarcou na manhã de hoje em Bruxelas após quatro meses e três dias na Alemanha. Ao lado do atual presidente da Generalitat, Quim Torra, o líder catalão direcionou suas primeiras palavras ao primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez. A quem instou a apresentar após o recesso parlamentar a “receita” para dar resposta à situação da Catalunha, uma vez que o mandatário reconheceu que se trata de um “problema político”.
“Não se pode querer os votos de quem te faz presidente e não atuar em consequência”, disse Puigdemont em referência a Sánchez só ter conseguido assumir o governo espanhol com os votos dos independentistas do seu partido, o PDeCAT, e de Esquerda Republicana (ERC). Sánchez governa em minoria no Congresso dos Deputados depende dos votos dos partidos catalães para aprovar projetos.
Na última sexta-feira, por exemplo, o primeiro-ministro não conseguiu aprovar proposta sobre o teto de despesas do governo exatamente pela abstenção de PDeCAT, ERC e do espanhol Podemos. Os votos dos três partidos foram imprescindíveis para aprovação da moção de censura que derrubou o ex-primeiro-ministro Mariano Rajoy, possibilitando a ascensão de Sánchez.
“Esperamos que no retorno das férias tenha aproveitado o tempo”, advertiu, ao deixar claro que o apoio independentista “não é um cheque em branco”. Segundo o ex-presidente, o primeiro-ministro “tem uma grande responsabilidade e não seria justo nem correto que a deixe passar”. Puigdemont insistiu que a saída é o “diálogo, diálogo, diálogo” e que a única maneira de solucionar a questão é no voto. “Que este diálogo se transforme em feitos”, sintetizou.
Ao ser interrogado por um jornalista espanhol sobre a renúncia a via unilateral, Puigdemont disse que não renunciará à soberania. “Não renunciaremos porque é uma questão de dignidade, contudo isto não implica que seguimos pensando que a via prioritária per exercer esta soberania é chegar a acordos. Acordos bilaterais”, remarcou.
Quim Torra, por seu lado, insistiu que “esta legislatura é a do direito de autodeterminação e não pode ser de uma outra forma. Explicou que deixou isso claro ao primeiro-ministro espanhol na reunião que manteve com ele recentemente em Madri. “Este é o principal tema da legislatura, junto com o da liberdade dos nossos presos políticos e dos nossos exilados”, destacou.
Puigdemont denunciou mais uma vez a “vergonha” da existência de presos políticos e de exilados e considerou que a resposta há de ser “Europa, mais Europa”. “Não nos cansaremos nunca de pedir a liberdade dos presos, de denunciar a perseguição política. O compromisso é colocar toda nossa energia e todos os ativos que acumulamos ao serviço desta exigência, da liberdade. Que não haja presos políticos, que ninguém tenha que se preocupar pela expressãp das suas ideias”.
Tanto Puigdemont quanto Torra ressaltaram o êxito da estratégia de internacionalização do conflito, a decisão da Alemanha de não aceitar a extradição por rebelião e a posterior retirada da euro ordem. E contrastaram essa situação com a manutenção dos presos pelo estado espanhol. “Não nos aclimataremos a um estado de repressão, a uma monarquia de repressão”, destacou Puigdemont.
Puigdemont e Torra se pronunciaram em entrevista coletiva realizada na deleção da Generalitat em Bruxelas sob grande expectativa da imprensa internacional. “É um dia de sentimentos contrapostos”, confessou o ex-presidente no início da entrevista. Em 24 de janeiro passado, o governo do então primeiro-ministro Mariano Rajoy promoveu o fechamento da delegação diante do anúncio de que Puigemont pretendia se reunir no local com o recém-empossado presidente do Parlamento, Roger Torrent.
Hoje Puigdemont foi recebido pelos ex-secretários de seu governo, Toni Comín, Clara Ponsatí e Meritxell Serret (esta última comanda agora a delegação na capital belga). De parte do governo Torra, estavam presentes os secretários Laura Borràs, Jordi Puigneró, Àngels Chacon e Chakir El Homrani. Deputados de Juntos por Catalunha também se fizeram presentes.