Espanha planeja intervenção na Catalunha para barrar referendo independentista
O governo da Espanha fez circular hoje a informação de que tem engatilhado um plano para impedir a realização de um referendo independentista na Catalunha. De acordo com o jornal El Mundo, as medidas são de natureza jurídica e coercitivas. A reação se dá após vários passos estratégicos dados pelo presidente catalão Carles Puigdemont para garantir a legitimidade da consulta, prevista para setembro. A meta é conseguir apoio popular para depois proclamar a república e votar uma nova constituição.
El Mundo, conhecido como porta-voz do primeiro ministro Mariano Rajoy (PP), também publicou editorial intitulado “A escalada independentista exige resposta“, instando o executivo espanhol a “barrar os planos soberanistas”. Coicidentemente, o jornal El País também se manifestou na mesma linha, afirmando no editorial “É preciso sair do imobilismo” que “diante da precipitação do processo, o governo não pode continuar parado”.
Entre as medidas aventadas, o governo espanhol estaria disposto tomar o controle da Secretaria de Educação catalã e mandar vedar as escolas, que em dias de eleições funcionam como colégios eleitorais. Para cumprir o planejado estão mobilizados os ministérios da Presidência, Educação, Interior e Justiça.
Segundo El Mundo, também não estaria descartado aplicar o artigo 155 da Constituição, que contempla a restrição de competências de uma comunidade autônoma. Ou seja, o governo espanhol tomaria para si as rédeas do governo catalão mediante intervenção. De feito, como explica o jornal, se Madri intervém na Secretaria de Educação catalã já estará lançando mão desta prerrogativa. Mariano Rajoy reforçou na manhã de hoje no Congresso dos Deputados, eem Madri, que “em nenhuma hipótese será realizado o referendo anunciado pelos independentistas”.
Mesmo diante das ameaças, o presidente Carles Puigdemont tocou sua agenda normalmente, com atos que apontam que não está disposto a recuar. Pela manhã, esteve reunido com todos os cônsules instalados em Barcelona para informar sobre a decisão de fazer o referendo. À tarde, esteve na reunião do Pacto Nacional sobre o Referendo, que tem como missão garantir o maior número de apoio dentro da Espanha e ao redor do mundo à consulta.
Na semana passada, Puigdemont realizou conferência na Eurocâmara, em Bruxelas, onde foi buscar apoio da Comunidade Europeia. O ato, que reuniu quase quinhentas pessoas, foi assitido por eurodeputados, representantes diplomáticos e correspondentes internacionais.
Ontem, o jornal New York Times abriu espaço para artigo da presidente do Parlamento Regional, Carme Forcadell, intitulado “Defendendo a liberdade na Catalunha”. A deputada, que está ameaçada de perder os direitos políticos por permitir o trâmite das chamadas leis de desconexão, denunciou “o assalto judicial da Espanha à democracia e à liberdade de expressão”. No texto, ela relata como o Ministério Público espanhol a acusa de desobediência e prevaricação por permitir em julho pasado o debate e a votação das conclusões do proceso constituinte catalão.
Na próxima segunda, o início do julgamento do ex-presidente da Catalunha, Artur Mas, promete jogar mais lenha na fogueira. Mas está sendo acusado de permitir a consulta popular realizada em 9 de novembro de 2014, na qual mais de dois milhões de catalães foram às urnas opinar sobre a independência. À época mais de 70% manifestaram-se a favor da desconexão.