Brasileiros das Gerais
Por Cesar Vanucci *
“Minas abriga o espírito mais livre da Nação”. (Carlos Drummond de Andrade)
Brasil das Gerais. Gosto da expressão. Costumo empregá-la em falas e na escrita. Por sinal, ao tempo em que estive diretor na TV Minas, entre vários programas lançados, havia um com esse título. Ancorado no talento e irradiante simpatia da Roberta Zampetti, tornou-se “carro chefe” na grade de atrações da emissora.
A proposta era colocar em realce a cultura, as tradições, as realizações vinculadas ao desenvolvimento econômico e social, bem como os personagens e respectivos feitos representativos do processo evolutivo deste dadivoso pedaço de chão. O pedaço mais brasileiro, por um bocado de razões, do território continental que começa no Oiapoque e termina no Chuí.
Ano passado, antes do vendaval do coronavírus desabar, num encontro interacadêmico na Amulmig, anunciei, ao ensejo das celebrações dos 300 anos de Minas, a promoção de um ciclo de conferências tendo por foco a vida e obra de brasileiros nascidos nestas bandas que alcançaram os patamares mais elevados na galeria da história. Nomes consagrados no apreço das ruas. Por obvias razões, a empreitada não pôde ser levada a cabo. Ficou adstrita a uma única conferência, alusiva a JK, efetivada com a participação esplêndida dos acadêmicos coronel Klinger Sobreira de Almeida e economista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira. Carlos Alberto descreveu a contribuição vanguardeira de Kubitschek na arrancada brasileira de desenvolvimento. Klinger trouxe informações inéditas acerca da carreira de Juscelino como médico na Polícia Militar.
Anoto, na sequência, os nomes dos brasileiros nascidos nas Gerais que iriam compor o ciclo de conferências, justamente pela circunstância de serem reconhecidos, no sentimento nacional – por conta das atividades a que emprestaram inteligência, capacidade empreendedora, lucidez de espírito e ardor cívico -, como figuras exponenciais da vida brasileira. Não deixa de ser emocionante e, a um só tempo, instigante, procurar entender porquê, como sublinha Carlos Drummond de Andrade, “O Estado mais tipicamente conservador da União, abriga o espírito mais livre”? Porquê destas paragens, emergiram os vultos mais fulgurantes, em tantas áreas de atuação fundamentais, em tantos caminhos decisivos na escala civilizatória?
A lista confere sentido ao conceito expendido. Diz tudo. José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da nacionalidade; Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; Mestre Ataíde, a mais importante figura da pintura no período colonial; Teófilo Otoni, o “Ministro do povo”; JK (desnecessário acrescentar qualquer coisa); Alberto Santos Dumont (dizer o que mais a respeito de seu invento?); Ary Barroso (bastaria a “Aquarela do Brasil” para glorificá-lo, mas ele fez outras centenas de magníficas canções); João Guimarães Rosa (nosso maior escritor, de ressonância universal); Carlos Drummond de Andrade, considerado maior poeta; Henriqueta Lisboa, a maior poetisa; o célebre cientista Carlos Chagas; Sobral Pinto, arauto do direito e das liberdades públicas; o pedroleopoldense de Uberaba Chico Cândido Xavier, mensageiro da paz e da generosidade; Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido por Pelé, “Atleta do Século”.
Esses ilustres brasileiros das Gerais, com suas ideias fecundas e ações febricitantes ajudaram em muito a forjar o caráter nacional. São fonte de inspiração permanente na formulação de projetos voltados para o bem estar humano, para que o país enverede por trajetória capaz de conduzi-lo ao destino que lhe é reservado no concerto das nações. Legaram-nos, com seus exemplos de vida, com sua inventividade e sensibilidade social, com seu arrojo construtivo ensinamentos que, bem absorvidos pelas lideranças, pelas gerações, permitirão à pátria amada Brasil realizar sua vocação de grandeza, na conquista do amanhã.
* O jornalista Cesar Vanucci (cantonius1@yahoo.com.br) é colaborador do Mundo Afora