Banco Central Espanhol vê ameaça de bloqueio de contas numa Catalunha independente

Linde e Mas
Linde vê ameaça de “corralito”, enquanto Mas classifica declaração de “irresponsável”

A seis dias da eleições para o Parlamento da Catalunha, o Banco Central Espanhol (BCE) traçou um cenário de risco para o sistema financeiro da região em caso de declaração de independência. Segundo o presidente da entidade, Luis Maria Linde, pode ocorrer um “corralito” – controle de capitais que impede os poupadores de dispor dos fundos de suas contas bancárias, como já aconteceu na Grécia e em alguns países da América Latina.
As afirmações de Linde, vistas como estratégia para amedrontar os eleitores dos partidos que planejam proclamar a república caso obtenham maioria no pleito, foram dadas três dias depois de bancos espanhóis ameaçarem fechar suas agências numa Catalunha independente. O que foi dito em comunicado oficial da Associação Espanhola de Bancos (AEB) e Confederação Espanhola de Caixas de Poupança (CECA), que entre os associados tem o Santander, CaixaBank e BBVA.
As declarações do presidente do BCE foram feitas em café da manhã organizado pela agência de notícias Europa Press, nesta segunda-feira (21), em Madri. Linde ressaltou que ao se independizar Catalunha perderia o acesso ao financiamento do Banco Central Espanhol e que sua saída da zona do euro seria “automática”. “A saída da União Europeia implica de modo automático na saída do euro”, disse.
O presidente da Catalunha, Artur Mas, um dos cabeças de chapa da coalizão Juntos pel Sí – com chances de alcançar a maioria dos votos, criticou as declarações. “É irresponsável e indecente fazer este tipo de ameaça, que ninguém em um país democrático se atreveria a insinuar. Fazem isso porque não têm nenhum outro argumento”, assinalou.
Perguntado sobre a viabilidade da economia catalã como Estado, Linde se limitou a dizer que existem países “menores”, acrescentando que tratava-se de uma valoração “em abstrato e uma pergunta sem interesse”.
Linde também fez referência aos comunicados da AEB e CECA e reafirmou que o processo soberanista está provocando “insegurança e tensão” no sistema bancário. A nota das patronais alerta para o risco de “qualquer decisão política que quebre a legalidade vigente e comporte a exclusão da União Europeia e do euro de uma parte da Espanha”. E continua: “A ruptura unilateral do marco constitucional comportaria graves problemas de insegurança jurídica, que obrigariam as entidades a reconsiderar sua estratégia de implantação e consequente risco risco de redução da oferta bancária”.
A setorial de Economistas pela Independência da Assembleia Nacional Catalã – organização da sociedade civil que defende a separação da Espanha – disse que a afirmação de que haverá um “corralito” na Catalunha é “tão falsa como inaceitável”. A ANC destacou que o Banco Central da Espanha já não tem competências supervisoras nem de liquidação de bancos catalães, funções que dependem do Banco Central Europeu.
A entidade também frisou que Linde é homem de confiança do governo espanhol e representa interesses do Partido Popular, do primeiro ministro espanhol Mariano Rajoy. “É uma nova voz – dizem eles – que repete ameaças infundadas para tentar condicionar o voto no dia 27 de setembro”, garantiu a ANC.
Meios de comunicação da Catalunha propagam que as ameças do governo espanhol vem ganhando maiores proporções porque as pesquisas apontam que a coalizão independentista tem chances de obter a maioria das cadeiras no Parlamento, bem como do número total de votos. O que é posto como condição para desenhar uma nova constituição e proclamar a república.

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