Puigdemont reaparece na Catalunha, discursa antes da eleição do Parlamento e desaparece
Ex-presidente da Catalunha, eleito deputado por seu partido Junts, volta a Barcelona e eclipsa eleição de Salvador Illa, eleito novo presidente
A Espanha e a comunidade internacional passaram o dia com os olhos voltados para Barcelona. Na cidade, o Parlamento da Catalunha tinha marcada a eleição do novo presidente da Generalitat. Nada diferente dos processos de qualquer outra comunidade autônoma espanhola, não fosse o fato de que um dos deputados eleitos e que prometia estar presente era o ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont.
Em exílio há sete anos na Bélgica, após declarar a falida independência da Catalunha, Puigdemont gerou expectativa ao prometer estar presente no pleno de investidura. O que eclipsou o candidato a presidente, Salvador Illa (PSC), que garantiu a maioria dos votos com apoio dos ex-independentistas de Esquerda Republica e Em Comum.
A chave para o retorno de Puigdemont é a Lei de Anistia, que foi aprovada no Congresso Espanhol e que beneficia políticos e militantes independentistas que participaram do 1 de outubro na Catalunha. Apesar de estar em vigor e já ter beneficiado uma série de pessoas, entre líderes políticos, militantes e ativistas, os juízes do Supremo Tribunal Espanhol se recusaram a aplicar-la no caso de Puigdemont.
O ex-presidente é visto pela justiça, assim como pela polícia, mídia e maioria de partidos políticos de Madri e grande parte da população espanhola como uma ameaça à unidade da Espanha. Não é para menos, nestes sete anos de exílio, Puigdemont vem travando uma batalha jurídica contra o estado espanhol nos tribunais europeus que tem dado muito o que falar.
Voltando à Barcelona, na manhã desta quinta-feira, 8 de agosto, Puigdemont apareceu nas imediações do Parlamento da Catalunha e subiu a um palco montado no Arco do Triunfo. De lá proferiu um discurso no qual defendeu uma Catalunha livre e o direito a decidir, dizendo que realizar um referendo não é crime. Ao acabar o discurso, desapareceu sem deixar rastros.
🎥 President @KRLS Puigdemont: "No sé quan ens tornarem a veure. Però quan ens tornem a veure que podem cridar tots junts el crit amb què jo ara acabaré: Visca Catalunya lliure." pic.twitter.com/kaC3k9atT5
— Junts per Catalunya🎗 (@JuntsXCat) August 8, 2024
Isso diante aparatoso efetivo policial montado para prendê-lo e de câmeras e olhos de centenas de jornalistas. Diante da “fuga” de Puigdemont, a polícia da Catalunha, os Mossos d’Esquadra ativaram o plano “Gaiola”, desenhado para ameaças terroristas. Com isso, fecharam todas as saídas de Barcelona e da Catalunha, provocando engarrafamentos quilométricos nas estradas e impedindo o acesso de muitos passageiros ao aeroporto El Prat. Mas nada de resultado.
Mesmo assim, Puigdemont não foi localizado, o que gerou revolta dos corpos da Polícia Nacional e dos partidos de oposição ao primeiro-ministro Pedro Sanchez, do PSOE, que o acusaram de fazer corpo mole à aparição de Puigdemont. Sanchez é criticado pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox, de extrema direita, de fazer concessões aso independentistas em troca dos votos para manter-se como primeiro-ministro.
ELEIÇÃO – Mesmo com toda confusão gerada e com os holofotes voltados para Puigdemont, finalmente Salvador Ila foi investido presidente da Catalunha. Membro do PSC, partido ligado ao PSOE de Pedro Sanchez, conseguiu a proeza de quebrar a hegemonia dos partidos independentistas no Parlamento da Catalunha. Isso porque conseguiu cooptar Esquerda Republicana, partícipe do 1 de outubro, que com a repressão do estado espanhol após 2017, se desvinculou totalmente do “sonho independentista”.
A pesar disso, o golpe de efeito da aparição e desaparição de Puigdemont parece ter sido forte. Com o movimento independentista desmobilizado e com eleitores insatisfeitos com a submissão à Espanha, fazia tempo que não havia tensão política por estes lados.
Ainda não se sabe o paradeiro de Puigdemont. O seu advogado, Gonzalo Boye, fez uma publicação nas redes sociais dizendo que o líder de Junts já está em casa e jamais se entregará. Dois Mossos d’Esqiadra foram presos acusados de colaborar com a fuga de Puigdemont.
Se isto surtirá alguma efervesência no apagado movimento independentista catalão pós repressão, o tempo dirá.