Independentistas vão às ruas de Barcelona em apoio a ex-presidente catalão
Nem o vento forte nem o frio impediram que cerca de 50 mil pessoas madrugassem hoje para ir às ruas de Barcelona dar apoio ao ex-presidente da Catalunha, Artur Mas. Uma das figuras mais emblemáticas do independentismo sentou-se no banco dos réus junto com as ex-colaboradoras Joana Ortega e Irene Rigau. Eles são acusados de desobediência e prevaricação por permitir a votação de 9 de novembro de 2014, quando mais de 2,3 milhões foram às urnas opinar sobre a independência.
O julgamento, que segue até a próxima sexta-feira (10), está a cargo do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC), subordinado ao Tribunal Supremo espanhol. O TSJC decidirá se acata o pedido feito pelo Ministério Público de dez anos de inabilitação política e aplicação de multa no valor de 36 mil euros. Os três já afirmaram que recorrerão até o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) se forem inabilitados.
Nas ruas, os manifestantes que atenderam à convocatória feita pela Assembléia Nacional Catalã (ANC), Ómnium Cultural e Associação dos Municipios pela Independência (AMI) começaram a posicionar-se nas primeiras horas da manhã. Logo lotaram a Praça Sant Jaume, de onde Mas saiu em comitiva, e o Passeio Lluis Companys, no Arco do Triumfo, onde está a sede do TSJC. Muitos cartazes questionavam “a democracia espanhola que julgava um governo por deixar o povo votar”.
Em meio aos gritos de “fora Justiça espanhola” e de hinos como “Els Segadors”, a multidão acompanhou Mas, Ortega e Rigau. Eles foram ladeados pelo atual presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, que em pronunciamento a TV declarou que “hoje todos nós nos sentimos julgados”, criticando a forma de tratar o assunto por parte do governo espanhol.
“Aqui não se julga a independência, se julga a democracia”, disse Mas à Agência France Press. “É a primeira vez que um governo democrático é julgado por ter deixado o povo votar. É um momento sem precedentes”, acrescentou.
No depoimento, que durou cerca de 40 minutos, Mas assumiu a responsabilidade sobre a realização da consulta. “Fui o máximo responsável da idéia do proceso participativo”, lembrando que sempre ressaltou que a consulta não era vinculante. Ortega informou que não houve nenhum funcionário público envolvido na organização da votação, que foi realizada por 42 mil voluntarios. Rigau, por sua vez, negou ter presionado a comunidade educativa a abrir as escolas para a consulta. “Na Catalunha são muitas as coisas que conseguimos organizar com o voluntariado”, completou.
Mas presidiu a Catalunha entre 2010 e 2016, período no qual teve Ortega como vice-presidenta e Rigau como secretária de Educação. Em 2014, o Tribunal Constitucional (TC) ordenou a suspensão da consulta poucos dias antes da data marcada, mas o executivo catalão, ajudado por milhares de voluntários, seguiu adiante.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, deixou as declarações sobre as manifestações de apoio aos independentistas para integrantes do governo. O ministro da Justiça, Rafael Catalá (foto), classificou como falta de respeito ao poder judiciário”. Já o delegado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo, disse que as milhares de pessoas que deram apoio a Mas, Ortega e Rigau hoje nas ruas “defenderam a desobediência e não a democracia”, acrescentando que “para defender a democracia é preciso respeitar a lei”.