Atos racistas e xenófobos se espalham no Reino Unido. Anistia Internacional investiga casos
A Anistia Internacional abriu investigações sobre crimes de ódio no Reino Unido após uma página criada no Facebook ter sido invadida por um número avassalador de comentários racistas e xenófobos e uma série de registros de outros casos denunciados por imigrante. A página foi criada depois da votação em que os britânicos decidiram sair da União Europeia (Brexit), na consulta realizada na semana passada.
A página Worrying Signs (sinais preocupantes, em português), se propõe a juntar provas de comentários racistas e xenófobos nas redes sociais e de outros tipos de incidentes envolvendo ataques físicos e verbais contra refugiados e estrangeiros. A página já tem mais de 14 mil membros e relatos diversos.
Yasmin Weaver, criadora da página, diz que se trata de uma situação “chocante”, consequência direta da campanha do ‘Leave’. “Não se trata de ir em cima de quem votou pela saída, mas sim de saber agora como lidar com as consequências da campanha que fizeram contra os imigrantes”, disse Yasmin.
Diversos líderes e organismos britânicos tem alertado nos últimos dias para o crescimento de atos racistas após a vitória do Brexit, após uma campanha exacerbada, marcada pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, que defendia a permanência na UE.
Um dos casos mais chocantes dos últimos dias, difundido no Youtube, aconteceu em Manchester, dentro de um tranvia. Jovens britânicos insultaram e ameaçaram de morte um imigrante. “Vá embora deste país, desça agora ou te matarei”, ameaça um dos agressores, que jogou cerveja no rapaz. “Nem sequer és da Inglaterra, imigrante”, insulta.
A vítima do ataque tenta manter a calma e pregunta a idade de um dos agressores, que responde: “És um sujo imigrante, volta para a África”, que ordena outra vez que o rapaz desça do trem.
Ao jogar a cerveja no imigrante, um dos agressores indigna os demais passajeiros, que até então estavam quietos. “Não há necessidade de fazer isso”, grita uma mulher, seguida de outras pessoas que pedem para os agressores saírem. Os jovens racistas são obrigados a descer do trem, num episódio que poderia ter terminado mal.
O alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, mostrou preocupação com a situação, bem como o prefeito de Londres, Sadiq Khan. Primeiro muçulmano a comandar Londres, ele declarou que deseja “defender a fantástica mescla de diversidade e tolerância da cidade”.
O Conselho Muçulmano do Reino Unido convocou para esta semana uma reunião urgente de líderes políticos e civis depois das “manifestações de discursos de ódio”. Entre elas, pinturas racistas em um centro polonês em Londres, um protesto em frente a uma mesquita em Birmingham e vários testemunhos de “muçulmanos e outros que foram insultados com gritos de ‘regressem a casa’’”. O grupo reuniu capturas de imagens com mais de cem ataques racistas nas redes sociais em uma semana.