Lenha na fogueira: denúncia e proibição colocam catalães e espanhóis em novo confronto
Os ânimos entre Espanha e Catalunha ficaram ainda mais acirrados na última quinta-feira (14). Mal havia baixado a poeira sobre a polêmica envolvendo o ministro da Educação, José Ignácio Wert, sobre o tratamento dado ao castelhano nas escolas catalã remetendo ao franquismo, dois episódios suscitaram novos enfrentamentos entre políticos e entidades civis.
O primeiro provocou acalorados debates em todo o país depois de uma denúncia por parte dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, contra a Polícia Nacional de Madri. Que foi acusada de alertar a integrantes de um grupo jihadista de que eles estavam sendo monitorados, pondo em risco a operação que desbaratou em abril uma célula terrorista ligada ao Estado Islâmico. O grupo pretendia atacar em Barcelona.
O segundo embate foi suscitado pela decisão da Junta Eleitoral Central, que ordenou a retirada das esteladas – bandeira símbolo do movimento pela independência – dos balcões de edifícios públicos, como colégios e prefeituras. A medida vale durante o período da campanha eleitoral para escolha dos prefeitos na Catalunha, com votação prevista para 24 de maio. Segundo a decisão, manter esteladas nos balcões é “incompatível com a obrigação de neutralidade dos poderes públicos”.
REAÇÕES – A denúncia feita pelos Mossos d’Esquadra contra a Polícia Nacional, revelada depois do arquivamento das investigações, rendeu embate entre o ministro do interior, Jorge Fernàndez Díaz, e o presidente da Catalunha, Artur Mas.
Enquanto na Catalunha se cobrava apuração rigorosa da denúncia e posicionamento do governo Rajoy, Fernàndez Díaz tentava desqualificar a polícia catalã. “A luta antiterrorista é de Estado e não pode ficar nas mãos de quem não tem o mínimo sentido de Estado”, atacou Díaz em referência aos Mossos d’Esquadra.
Já Artur Mas recomendou ao ministro do Interior que ao invés de brigar com a Catalunha “fizesse um exame de consciência e começasse a depurar as más condutas da Polícia Nacional, sob sua responsabilidade”.
No caso das esteladas, a decisão foi tomada atendendo a petição feita pela Sociedade Civil Catalã (SCC), que apesar do nome, é acusada de ser fomentada por espanholistas. A SCC argumentou que “a presença deste símbolo partidista poderia vulnerar o artigo 103 da Constituição”.
A decisão da junta eleitoral, favorável ao pedido da SCC, com data de 13 de maio, assinala que durante as campanhas eleitorais os poderes públicos estão obrigados a “manter estritamente a neutralidade política” e por isso devem “abster-se de colocar todo tipo de símbolos ou bandeiras que possam ser consideradas partidistas”.
A decisão atinge ao menos 300 municípios catalães, governados em sua maioria pelos partidos Convergência e União (CiU) e esquerda Republicana de Catalunha (ERC), defensores do movimento independetista. Nestas cidades há esteladas em colégios, bibliotecas, praças e recintos desportivos.
As eleições para prefeito na Catalunha, em 24 de maio, estão sendo encaradas como significativas para o movimento independentista, que tenta eleger o maior número de candidatos. Que darão suporte a campanha para a eleição de setembro, quando serão escolhidos os membros do Parlamento. A pretensão é que com maioria de deputados independentista possa ser proclamada a república e desenhada uma nova constituição.