Jornada de vergonha e dignidade na Catalunha, com violência policial e resistência dos eleitores
Polícia espanhola tentou impedir referendo catalão com muita violência. Apesar das feridas e do fechamento de colégios, eleitores não se curvaram e depositaram seus votos
Desde as 5h da manhã os eleitores catalães se posicionaram diante das escolas dispostos a resistir e a votar. Dentro dos colégios eleitorais haviam profesores, pais e alunos que ocuparam os locais desde a sexta-feira para garantir a abertura das mesas de votação.
Às 9h, com o início da votação, a polícia espanhola começou o ataque, batendo com violência em quem encontrava pela frente.
Foram muitos os casos de gente com os dedos das mãos quebrados, como Marta Torrecillas, 33, que estava no Instituto Pau Claris, em Barcelona. Vídeos publicados nas redes socias mostram pessoas sendo jogadas escadas abaixo e outras golpeadas por bastões ou arrastados pelos cabelos ou pelas pernas.
Os eleitores se defendiam levantando os braços e gritando que eram gente de paz, enquanto outros sentavam-se no chão. Mas não houve piedade. A polícia bateu em idosos, jovens e crianças. Em alguns pontos usou gás de pimenta e bolas de borracha, que têm uso proibido na Catalunha. Tudo isso para confiscar cédulas eleitorais e urnas, muitas arrancadas à força dos mesários.
Entre os alvos, os locais onde votariam Puigdemont, o vice Oriol Junqueras e a presidente do parlamento, Carme Forcadell. Contudo, ao ativar o censo universal, com um sistema informático que permitiu que os cadastrados votassem em qualquer seção, os líderes catalães depositaram seus votos em outros colégios.
Em alguns locais, policiais foram expulsos com ajuda dos bombeiros e agentes dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã. Em cidades do interior, caminhões e tratores foram usados para bloquear a passagem da polícia. Os agentes espanhois destruíram mobiliário e equipamentos de diversas escolas. A secretaria de Educação da Catalunha, Clara Ponsatí, foi agredida tentando proteger a sede da instituição que serviu de colégio eleitoral.
Observadores internacionais convidados pela Diplomacia Pública da Catalunha foram alvo da repressão, com alguns expulsos das escolas ou atacados com balas de borracha. O grupo que veio da Grã-Bretanha, formado por eurodeputados e cientistas políticos, promete denunciar o estado espanhol à Corte Penal Internacional de Haya por “flagrante violação dos direitos humanos”.
Muitos líderes europeus levantaram a voz contra Rajoy, reputando a ação como indigna de um estado Europeu. Foi o caso da primeira ministra escocesa Nicola Sturgeon e de seu homónimo na Bélgica, Charles Michael. O jogador de futebol, Gerard Piqué, que votou, chorou ao defender o direito dos catalães de pronunciarem-se sobre a independência. A imprensa estrangeira fez duras críticas à Espanha. O The Guardiam titulou: “O estado espanhol perdeu”, enquanto a cadeia de notícias CNN destacou como país “Vergonha da Europa”.