Por que o Libération publica na capa foto do rei da Espanha de cabeça para baixo?

Jornal francês pergunta na capa desta quinta-feira, 5 de setembro: “A história está louca?, em referência à repressão policial da Espanha na Catalunha, com foto do rei Felipe VI de cabeça para baixo. Descubra aqui porque a imagem foi publicada assim   

A capa do jornal frânces Libération da edição que circulará nesta quinta-feira, 5 de setembro, está dando o que falar. Ancorada pela manchete “A história está louca?”, o diário publica uma foto do rei Felipe VI de cabeça para baixo. Na edição, trata sobre postura do monarca espanhol com relação à Catalunha, que está sendo reprimida violentamente pelas aspirações independentistas, fazendo paralelos com o massacre em Las Vegas e a crise na Coreia do Norte.

O brutal ataque da policía espanhola contra os catalães durante o referendo no último domingo chocou o mundo

Em discurso oficial na terça (03), Felipe VI elogiou a violenta ação da polícia contra os catalães e em nenhum momento fez referência aos quase 900 feridos no brutal ataque. As imagens das pessoas sendo agredidas durante o referendo do último domingo deram a volta ao mundo, provocando críticas de vários líderes europeu, bem como da imprensa internacional.

 

Durante o discurso de Felipe VI, que recriminou governo catalão e deu suporte à ação da policía, chamou atenção quadro com imagem onde antecesor aparece com armas na mão

O rei espanhol se alinhou ao primeiro-ministro Mariano Rajoy, do conservador Partido Popular (PP), que planeja suspender a autonomia da Catalunha e intervir no governo do presidente catalão Carles Puigdemont, sob ameaça de prisão. Um caminho mal visto por requerer o uso da força e distoar dos príncipios democráticos pregados pela União Europeia.
O governo espanhol defende que está usando a força proporcional na região. Onde os independentistas lograram realizar o referendo, no qual mais de 2 milhões de pessoas se mostraram favoráveis à separação da Espanha, mesmo diante da ação repressiva empreendida. Nesta quarta-feira, moveu barcos do Exército em direção à costa da Catalunha, onde já há dois navios abrigando 10 mil homens da Polícia Nacional e da Guarda Civil.

Puigdemont criticou postura de Felipe VI, que não fez menção aos quase 900 catalães feridos pela policía espanhola no último domingo

O discurso de Felipe VI foi rebatido na noite desta quarta por Puigdemont, que recriminou a falta de diálogo e o uso da força para conter um povo pacífico. O líder catalão disparou: “Assim não”, em resposta ao rei, a quem acusou de não saber respeitar os anseios do seu povo. “Desta forma, ignora os milhões de catalães que não pensam como ele”, completou, ao dizer que sempre esteve e estará aberto ao diálogo.
Espera-se que Puigdemont leve o resultado do referendo à apreciação do parlamento catalão na próxima segunda-feira. O que pode resultar na declaração de independência.

Felipe V mandou incendiar Xàtiva em 1714, na sangrenta Guerra de Secessão. Por isso, museu da cidade expõe seu retrato de cabeça para baixo à espera de pedido de desculpas da dinastía Bourbon

O REI DE CABEÇA PARA BAIXO – A foto de Felipe VI de cabeça para baixo faz referência a um dos sangrentos episódios da Guerra de Secessão em 1714, quando a Catalunha foi derrotada pelo reino espanhol. À época, o então rei Felipe V, ancestral do monarca atual, ordenou que a cidade de Xàtiva, no País Valenciano, fosse riscada do mapa. Para isso, seus soldados incendiaram tudo que encontraram pela frente, dizimando a população.
Na atual Xàtiva, o Museu Municipal Almodí, tem exposto um quadro de Felipe V de cabeça para baixo desde 1956, como forma de repúdio ao castigo brutal imposto à cidade. De autoria do artista local Josep Amorós, a pintura data de 1720. A ideia de pendurá-la desta forma partiu do jovem sacerdote Francesc Gil, que convenceu o então diretor do museu, Carles Sarthou.
Sarthou justificou a decisão dizendo que até que um membro da família real não se desculpasse pelo seu antecesor Felip V haver mandado incendiar a cidade o retrato permanecería assim. Até hoje não houve desculpas por parte da monarquia espanhola nem tampouco visita dos Borbons à Xàtiva.

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