Protesto no Parlamento Europeu contra proibição de navio espanhol salvar vidas no Mediterrâneo

Navio Open Arms está retido no porto de Barcelona por ordem do governo espanhol. Ação impede que embarcação realize salvamento em área onde mais de 1,3 mil pessoas morreram ano passado

Um grupo de ativistas e de eurodeputados realizou protesto nesta quinta-feira (17) no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, pedindo a liberação do navio Open Arms que está retido no porto de Barcelona por ordem do governo espanhol. A embarcação, que realiza salvamento de imigrantes que tentam chegar à Europa, é uma das poucas que trabalha na área de resgate onde ano passado mais de 1,3 mil pessoas perderam a vida.

Os ativistas contam com o apoio dos eurodeputados Ernest Urtasun (Partido Verde) e Marina Albiol (Esquerda Unitária), que  já haviam denunciado a situação ontem (16), momentos antes do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, comparecer ao pleno como convidado do programa “O futuro da Europa”.

Hoje, em sua conta no Twitter, Oscar Camps, publicou foto do protesto, informando que o tema foi levado à Comissão Europeia, com o seguinte comentário: “Senhor Pedro Sánchez o não cumprimento habitual do resto dos países de seu dever de auxílio não pode atribuir-se a quem precisamente presta este auxílio”.

Open Arms está ancorado no porto de Barcelona impedido de realizar sua missão de resgate

Camps faz referência às justificativas utilizadas pelo governo espanhol para impedir a saída do Open Arms. No despacho assinado pelo capitão do mar Javier Valencia se detalha uma longa lista de violações de acordos internacionais para justificar a decisão, mas nenhuma delas é responsabilidade direta do navio ou de sua tripulação.

Um exemplo disso é a referência à última missão do navio. “Na última operação de resgate foi violada indicado sobre a obrigação de desembarcar os sobreviventes no porto seguro mais próximo possível”, adverte o texto referindo-se ao salvamento no final de dezembro 308 pessoas que nem Itália nem Malta, nem qualquer outro país europeu quis aceitar. Isso levou a Espanha a autorizar seu desembarque em Algeciras, o mais distante porto seguro do Mediterrâneo.

Em uma época de discursos populistas anti-imigrantes na Europa, Itália e Malta fecharam seus portos para os migrantes resgatados e delegaram as tarefas de coordenação e resgate à guarda costeira da Líbia. Os socorristas líbios, com uma estrutura deficiente e parcialmente operacional, foram denunciados por várias organizações que testemunharam seus resgates devido a sua omissão e falta de preparação para salvar vidas. Antes do fechamento dos portos neste verão, os navios de resgate, como o Open Arms ou o Aquarius, auxiliavam os náufragos e podiam ser imediatamente desembarcados no porto maltês e italiano mais próximo com a ajuda de seus respectivos guardas costeiros.

Opens Arms é um dos barcos com maior atividade no Mediterrâneo

Essa coordenação não existe mais no Mediterrâneo e o capitão se refere a isso para justificar que o navio não deve retornar até que haja um acordo para o desembarque das ajudas. A organização Proactiva Open Arms, proprietária do navio, denuncia que está impedida de continuar com seu trabalho não por causa de sua não conformidade, mas por causa da “omissão dos Estados”. “É como impedir uma ambulância de ir a uma emergência porque os hospitais estão cheios”, denuncia Oscar Camps.

O Open Arms é um dos navios mais atuantes no Mediterrâneo em sua missão de salvar vidas. A decisão da Capitania Marítima, contra qual a entidade já recorreu, deixa a ONG sem sua atividade principal. “Para nós isso é como fechar a fundação. Nossa presença força todos os que estão na área a cumprir sua obrigação de salvar vidas “, lamenta Camps. “Esta é uma decisão política e o capitão marítimo teve que transmiti-la”, acrescenta.

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