“Muro humano” de 200 mil pessoas nas ruas de Barcelona em defesa dos presos e exilados catalães
Manifestação “Autodeterminação não é delito” lota principal artéria da capital catalã para denunciar julgamento “político” dos líderes independentistas
Uma multidão estimada em 500 mil, segundo os organizadores, e de 200 mil, de acordo com a Guarda Urbana, lotou dois quiolômetros da Gran Via, uma das artérias centrais de Barcelona, para protestar contra a prisão dos líderes independentistas que estão sendo julgados em Madri. Com o lema “Autodeterminação não é delito”, a manifestação defendeu o direito a votar sobre o futuro da Catalunha, acusando o estado espanhol de estar “julgando a democracia”.
O ato teve início às 17h, com uma passeata que saiu da Praça Espanha até a Praça Universidade, onde estava montado o palco, e terminou pouco depois das 19h. Desde às 15h já havia gente se concentrando no trajeto que foi se enchendo até o horário marcado. Famílias inteiras compareceram à manifestação levando cartazes e as famosas bandeiras independentistas.
O presidente Quim Torra e o vice-presidente Pere Aragonés encabeçaram o cortejo, composto pelos representantes de entidades e de partidos soberanistas. Durante a caminhada, puderam ouvir os gritos da multidão que pedia “unidade” aos partidos independentistas que nos últimos tempos vem divergindo nos seus posicionamentos. Podia se ouvir também gritos de “liberdade presos políticos” e de “somos um muro humano”.
Uma das falas mais contundentes veio de Marcel Mauri, porta-voz de Ómnium Cultural, entidade cujo presidente, Jordi Cuixart, está preso sob a acusação de rebelião, há 16 meses por ter organizado manifestações em Barcelona. “Somos um muro humano contra a intolerância e a extrema direita. Um muro que defende os direitos e as liberdades. Porque autodeterminação não é um delito, é um direito! E os direitos se exercem nas ruas”, disse, em referência à frase do procurador público Javier Zaragoza, no segundo dia do julgamento em Madri.
Zaragoza disse que não podia se responsabilizar as forças policiais pelas agressões aos eleitores no referendo de 2017 porque os cidadãos “incitados ” formaram uma “muralha humana” para proteger as urnas.
“Somos homens e mulheres dignos, tão dignos como os presos e os exilados que estão sendo julgados por suas ideias. Estamos aqui para denunciar um julgamento político, no qual quem está no banco dos réus é a democracia”, continuou Mauri. O porta-voz da Òmnium convocou a todos os democratas da Espanha a não deixarem que os intolerantes tomem conta da política”, em referência ao partido de extrema direita Vox, que participa da acusação contra os presos catalães como representante do povo.
Mauri destacou ainda que não estão sendo julgados apenas 12 pessoas, mas os dois milhões que foram às urnas votar no referendo. “Também julgam os mais de 80% de catalães que segundo as pesquisas são contra a violência e contra a detenção dos independentistas”, remarcou.
A presidente da Assembleia Nacional Catalã (ANC), Elisenda Paluzie, frisou que não se pode “normalizar o julgamento” e agradeceu o comparecimento massivo ao protesto. “O povo catalão não falha nunca, estamos aqui mais uma vez para mostrar ao mundo que temos direito a decidir o nosso futuro”.
Na sequência, representantes de outras entidades e dos partidos independentistas falaram destacando a necessidade de manter-se mobilizados para defender os direitos dos povo catalão. A maioria dos discursos convergiu na necessidade de “combater a onda da extrema direita facista que avança na Espanha” não apenas representada por Vox, mas também pelo Partido Popular (PP) e Cidadãos.
“Os três ginetes do apocalipse não passarão. A extrema direita se combate e a sua tumba será Catalunha”, disparou o deputado congressita Gabriel Rufián (ERC), O parlamentar se referiu a Pablo Casado, Albert Rivera e Santiago Abascal, respectivamente líderes do PP, Cidadãos e Vox, que estão fazendo campanha para que haja uma intervenção permanente na Catalunha.
Durante o ato, foram apresentadas peças de campanha da ANC e de Òmnium destacando a importância da luta contra o fascismo ao longo da história e que no julgamento os catalães não estão se defendendo, mas acusando a um estado intolerante.
Os organizadores do evento destacaram ainda a importância de participar da greve geral que está convocada em toda Catalunha no próximo dia 21.
A mobilização faz parte do calendário de atos que está sendo levado a curso desde o último dia 12 de fevereiro, quando começou o julgamento. Naquele dia, houve parada simbólica de dez minutos de trabalhadores ao meio-dia na frente de suas empresas e à noite manifestações em diversas cidades da Catalunha, com destaque para a realizada no centro de Barcelona. Dentro deste calendário, está programada uma mobilização em Madri, no próximo dia 16 de março.