Diada atípica na Catalunha marcada pela Covid-19 e divisão independentista
Atos realizados pelas entidades soberanista foram descentralizados. Nos discursos, críticas às brigas partitidistas que enfraquecem movimento independentista
A Diada da Catalunha neste 11 de setembro foi sem as manifestações massivas que marcaram a data nos últimos anos. Por conta da Covid-19, os atos convocados pela Assembleia Nacional Catalã (ANC), Òmnium e Associação de Municípios pela Independência (AMI) tiveram número limitado de participantes. Nos discursos, fortes críticas aos líderes dos partidos independentistas que há tempos vêm travando disputas prejudiciais à unidade estratégica do movimento soberanista.
“Já temos suficientes brigas e debates estéreis. A repressão do estado busca isso, a divisão e a desunião. O pior inimigo somos nós mesmos”, enfatizou o vice-presidente de Òmnium, Marcel Mauri. Ele pediu aos partidos que “não se deixem levar pelos interesses de partido” porque se não “a cidadania saberá se colocar à frente”.
Na mesma linha, a presidente da ANC, Elisenda Paluzie, disse que a etapa “sem rumo está durando muito” e instou o ex-presidente da Catalunha, Carles Puigdemont (JxCat), e o ex-vice-presidente Oriol Junqueras (ERC) a tecerem uma estratégia conjunta.
“Temos presidentes simbólicos, leis simbólicas, governos simbólicos. Não somos um país siimbólico, somos um país de verdade. Estamos fartos da divisão e da tática. E exigimos já uma estratègia. Vice-presidente legítimo Oriol Junqueras e presidente legítimo Carles Puigdemont, por favor, leiam cada um o livro do outro. O libro que queremos ler é o que tenha vossas duas assinaturas”, destacou.
Paluzie fazia referência à disputa travada entre Puigdemont, exilado na Bélgica, e Junqueras, preso e condenado pelo processo soberanista, que tem distanciado cada vez mais as duas principais siglas independentitas. Puigdemont é líder de Juntos por Catalunha, enquanto Junqueras comanda Esquerda Repúblicana da Catalunha (ERC).
Apesar de atuais sócios no governo e no parlamento catalão, desde a tentativa frustrada de independência, em 2017, quando também estavam juntos, se distanciaram e não param de se atacar mutuamente. Recentemente, ambos lançaram livros nos quais contam suas versões sobre o processo independentista e se acusam mutuamente. Essa luta partidária, somada à repressão espanhola ao movimento, tem gerado crítica entre os partidários da independência da Catalunha e dificultado a ação do movimento.
ATOS DESCENTRALIZADOS – Com as medidas de prevenção por conta da pandemia, os atos do 11 de setembro foram descentralizados em 131 pontos diferentes em 82 municípios catalães. A estimativa é de que mais de 60 mil pessoas tenham participado.
A #Sants mig miler de persones participen a la concentració convocada per l’ @assemblea pic.twitter.com/RaCBUyhHNj
— Sara Riera (@sararieralopez) September 11, 2020
Em Barcelona, houve também manifestação organizada pelo Conselhos em Defesa da República (CDRs), que realizou passeata, queimou um boneco do Rei Felipe VI, e se dissipou na Praça Urquinaona, no centro da cidade. Durante o dia, os partidos políticos também fizeram atos simbólicos em referência à data, que marca a tomada da Catalunha, em 1714, pelos Bourbons no final da Guerra de Sucessão.