Austrália muda hino nacional em reconhecimento a aborígenes
Nova versão começou a valer dia 1º de janeiro e objetiva reconhecer e honrar os povos originários, mostrando que país não é formado apenas por europeus
A Austrália começa 2021 com uma mudança simbólica em seu hino nacional que objetiva reconhecer e honrar os povos originários e mostrar que o país não é apenas formado por emigrantes oriundos da Europa. A mudança, de uma única palavra, foi na segunda estrofe da letra, que antes se referia à Austrália como “um país jovem e livre” (For we are young and free). Agora diz que é “um país unido e livre” (For we are one and free).
A decisão, anunciada pelo primeiro-ministro, Scott Morrison, foi bem recebida por todos os grupos políticos do país. A referência à Austrália como “um país jovem” era considerada um insulto aos aborígenes que há milhares de anos vivem na região. Era considerada uma mostra evidente do colonialismo que considerava como um país sem habitantes antes da chegada dos europeus.
Segundo Scott Morrison, a mudança significa levar em consideração as origens da Austrália e esperar que ela crie um “espírito de unidade”: “Vivemos em uma terra eterna, feita de povos das nações originais, e descrevemos juntos as histórias de mais de 300 ancestrais nacionais e grupos linguísticos. Somos a nação multicultural mais bem-sucedida do mundo e nosso hino deve refletir isso.”
Morrison também vinculou a mudança ao sucesso da unidade que a Austrália demonstrou no combate à pandemia do coronavírus. “No ano passado, demonstramos mais uma vez o espírito indomável dos australianos e o esforço unido que sempre nos permitiu ter sucesso como nação. É hora de garantir que essa grande unidade seja refletida mais plenamente em nosso hino nacional.”
O líder da oposição Anthony Albanese aplaudiu a decisão do primeiro-ministro e disse: “Os australianos deveriam se orgulhar de que, graças às Primeiras Nações, a Austrália é o lugar do planeta que tem sido habitado continuamente desde então mais longo”.
Os aborígenes australianos, que não eram reconhecidos como cidadãos pelas autoridades australianas até 1967, continuam a sofrer racismo e discriminação hoje, mas nos últimos anos, seguindo o modelo da Nova Zelândia, mais e mais vozes se levantaram exigindo respeito pelos seus direitos e pelo seu modo de vida.
O crescimento do movimento político entre os aborígenes australianos e os das Ilhas do Estreito de Torres também colocou desafios que estão no cerne da decisão tomada. Em 2017, os aborígines proclamaram o Manifesto Uluru, que, entre outras coisas, clamava por uma voz própria no parlamento australiano, uma demanda que ainda não foi aceita.
Paralelamente às demandas políticas, cresceram os reconhecimentos simbólicos, dos quais a mudança de hino é o mais significativo. Há apenas um mês, pela primeira vez, o hino foi cantado oficialmente em inglês e em Eora, uma das línguas aborígenes. Era o início de uma partida oficial de rugby contra a Argentina.